Temperaturas atingidas seriam insuficientes para incinerar e não há sinais de cinzas na casa de Paços de Ferreira. Mulher continua internada.
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P. Alexandra, a grávida de risco que garantiu ter queimado o feto e espalhado as cinzas no quintal, depois de ter sofrido um aborto espontâneo, em Carvalhosa, Paços de Ferreira, disse ter usado álcool para incinerar os restos mortais do bebé, nascido morto. As autoridades desconfiam da versão, porque as temperaturas de combustão daquele líquido inflamável não seriam, em princípio, suficientes para obter esse resultado.
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A mulher continua internada no Hospital de Penafiel, onde deu entrada na passada terça-feira, bastante debilitada. Tinha escondido do marido que sofrera o aborto na casa da banho da sua habitação, três dias antes, e quando lhe contou, ele obrigou-a a ir procurar ajuda ao hospital. Ali, confessou também ter queimado o feto e espalhado as cinzas no quintal, o que motivou a intervenção da Polícia. Mas, de acordo com informações recolhidas pelo JN, as autoridades suspeitam que a mulher lhe possa ter dado outro destino.
P. Alexandra garantiu ter usado uma lata, que nunca foi encontrada porque, afiança, deitou-a ao lixo, entretanto recolhido pelos serviços municipais. Também não há sinais das cinzas que diz ter espalhado no quintal das traseiras na casa, mas, como choveu, poderiam ter sido dissolvidas na terra. Mas o que mais leva as autoridades a desconfiar é o facto de a combustão do álcool não atingir temperaturas necessárias para transformar o corpo em cinzas.
Depressão e pânico
A mulher sofria de uma grande depressão por a família estar a passar por sérias dificuldades financeiras, mas também andava em pânico. "Há cerca de 15 dias, quando soube que o padrasto que a violou quando era criança ia sair da cadeia, ficou pior. Nunca mais foi igual", contou o marido ao JN. O padrasto, que está prestes a terminar dez anos de reclusão, terá ameaçado de morte a enteada quando foi condenado. "Ligaram da reinserção social a avisar que ia sair e se a minha mulher queria um botão de pânico", adiantou também o marido.
Até então, o casal estava feliz pela terceira gravidez. Com duas meninas, estavam ansiosos que chegasse um rapaz, apesar das dificuldades financeiras. A mulher estava a ser seguida no hospital, pois a gravidez era de risco.
Arguida logo que estado de saúde deixe
A mulher ainda não foi constituída arguida por continuar internada no Hospital de Penafiel, onde teve de ser submetida a uma cirurgia. No entanto, mal o seu estado de saúde o permita, será indiciada pelo menos do crime de profanação de cadáver. A eventual imputação do crime de homicídio dependerá de se saber se o feto estava morto ou vivo. Sem corpo, não deverá ser possível pôr em causa as declarações da mãe.
Silêncio
P. Alexandra esteve em silêncio três dias até confessar ao marido que sofrera um aborto. O homem obrigou a mulher a ir ao hospital.
Saco com toalha
A GNR recolheu, num contentor do lixo situado junto da casa, um saco com uma toalha que terá servido à mulher para se limpar após o aborto.