Condenadas 17 pessoas, uma a nove anos de prisão, por furtos em casas, lojas e hipermercados do Norte e Centro.
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Um grupo fez mais de meia centena de furtos, no Norte e Centro do país, ao longo de um ano. No início, invadiram casas para levar dinheiro e ouro que, a seguir, penhoraram. Depois, assaltaram, com sacos forrados a alumínio, lojas de roupa e de telemóveis, que venderam a recetadores. Por último, esconderam carne e marisco no corpo para abastecer um restaurante. Em fevereiro, 17 dos seus membros foram condenados, sete dos quais a penas de prisão efetiva. Só Silvestre Silveira vai cumprir nove anos de cadeia por 47 furtos.
O Tribunal de Viseu deu como provado que, em maio de 2022, sete homens, alguns com ligações familiares, “gizaram o plano” para assaltar residências durante o dia. Entre os assaltantes estava João Cabeças, que ficava no carro a vigiar, enquanto os comparsas invadiam as habitações.
O grupo chegou a fazer vários assaltos num só dia e, de uma casa de Vouzela, roubaram mais de 8500 euros entre dinheiro e joalharia. Como sempre aconteceu, o ouro seria vendido numa loja de penhor, de São Mamede de Infesta, Matosinhos.
A partir de janeiro de 2023, João Cabeças e Silvestre Silveira, que já tinha participado nos furtos a casas, decidiram alargar a atividade criminosa a lojas. Para o efeito, lê-se no acórdão, “muniram-se de diversos sacos de cartão, previamente forrados com papel de alumínio e fita adesiva”, que lhes permitiam sair dos espaços comerciais com produtos furtados sem ativar o alarme.
Com este método, roubaram centenas de peças de roupa, calçado e telemóveis da Sport Zone, Decathlon, Worten ou H&M, no Porto, Aveiro, Coimbra, Braga, Esposende ou Valongo. Em 18 de janeiro, por exemplo, começaram por furtar 22 t-shirts na Sport Zone do Arrábida Shopping, em Gaia, passaram pelo Mar Shopping, em Matosinhos, e seguiram para a Decathlon, de Guimarães, para roubar mais 25 peças de roupa e quatro pares de sapatilhas.
Ainda se deslocaram a Braga antes de rumar a Paços de Ferreira, para vender tudo a Jair Oliveira e à companheira Maria Silveira, casal que comercializava o material furtado em feiras.
Alimentos ocultos no corpo
Dois meses depois, Silvestre Silveira planeou novo esquema. Com a mulher Marta Silva e os pais Silvestre Grilo e Iolanda Soares, o homem de 29 anos e residente em Gulpilhares, Gaia, passou a atacar os hipermercados da marca Mercadona e Lidl. O primeiro furto aconteceu em São João da Madeira, com o método que se repetiria dezenas de vezes.
Marta e Iolanda entraram no Mercadona, meteram seis cuvetes de picanha no cesto de compras, deslocaram-se para um local sem câmaras de vigilância e esconderam a carne no próprio corpo para sair do hipermercado sem pagar. Uma vez no exterior, fugiram no carro conduzido por um dos homens.
Marta e Iolanda furtaram embalagens de polvo, de camarão tigre e até queijos e charcutaria. Muitos dos produtos alimentares foram entregues no restaurante Engaço, em Penafiel.
Uma investigação da GNR de Viseu culminou, em 25 de maio de 2023, com buscas às residências dos suspeitos e ao restaurante. Na altura, os mentores e operacionais do esquema foram detidos e, em fevereiro deste ano, 17 foram condenados. As penas mais pesadas foram aplicadas a Silvestre Silveira (nove anos de cadeia) e à mãe Iolanda Soares (sete anos e três meses), responsável por 29 furtos. João Cabeças, Xavier Cardoso, Manuel Cardoso, Silvestre Prudêncio e Marta Rosado também vão presos entre cinco e seis anos.
Investigação
Estabelecimento com processo autónomo
O restaurante e o seu gerente, Hélder Rocha, não foram envolvidos no julgamento de Viseu. O processo referente ao Engaço foi separado e ainda está em investigação, liderada pelo Ministério Público de Penafiel. Mesmo assim, o acórdão de Viseu dá como provado que Silvestre Silveira, Marta Rosado e Iolanda Soares deslocaram-se mais de dez vezes, entre março e maio de 2023, ao restaurante para vender bens alimentares furtados. Numa das vezes, a família foi parada pela GNR de Penafiel com cerca de 900 euros em presunto, bife, bacalhau, camarão e queijos no carro.
Crimes
Parados pela GNR
Após assaltarem o Lidl da Mealhada, Silvestre Silveira, Marta Rosado e Iolanda Soares foram parados pela GNR. Tinham no carro mais de 540 euros em camarão, carnes e bacalhau.
Modo de vida
A maioria dos condenados não trabalhava e ficou provado que os furtos eram a sua única fonte de receita. “Os arguidos agiram em bando, modo de vida, comunhão de esforços e de intentos”, lê-se no acórdão.