Há vários grupos de extrema-direita ativos em Portugal. O Portugal Hammerskins, que há dias teve 27 dos seus membros acusados de crimes de discriminação racial, religiosa ou sexual e tentativa de homicídio, promoveu encontros internacionais em Sintra e em Lisboa, enquanto o Blood & Honour organiza, desde 2015, um festival de música anual. O último teve lugar em Lavra, Matosinhos.
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O alerta é feito pela Europol que, num relatório ontem divulgado, confirma que o Escudo Identitário tem ligações a organizações neonazis europeias e que Brenton Tarrant, o neozelandês que matou 49 pessoas, passou por Tomar, cidade descrita como o quartel-general português dos cavaleiros templários, antes de efetuar o ataque terrorista a duas mesquitas.
Concertos anuais
Segundo a Europol, o Blood & Honour, um dos mais proeminentes grupos europeus dedicados à "guerra racial para salvar a raça branca", tem "capítulos" (núcleos nacionais) ativos "em diferentes países europeus, incluindo Bélgica e Portugal". Aliás, esta organização de extrema-direita tem promovido, sempre por altura do mês de novembro e desde 2015, concertos, que costumam atrair altos dirigentes de diferentes "capítulos" europeus. No ano passado, o festival realizou-se em Lavra, mas, de acordo com a informação recolhida pelas autoridades, não cativou uma multidão.
Também o Hammerskins, outra organização neonazi, mantém a sua atividade em Portugal. "Apesar de uma menor capacidade para mobilizar seguidores e membros, o grupo organizou outra edição do European Officers Meeting, em Sintra, em janeiro do ano passado.
Em março, o grupo promoveu um encontro em Lisboa, que reuniu diferentes gerações de skinheads, incluindo veteranos do extinto Movimento de Ação Nacional e antigos membros das bandas de rock Ódio e Guarda de Ferro, que tinham terminado a sua atividade", lê-se no documento da Europol.
Recorde-se que, este mês, o Ministério Público, acusou 27 elementos dos Hammerskins por crimes de ofensa à integridade física, incitamento à violência, homicídio tentado, dano com violência, detenção de arma proibida, roubo, tráfico de estupefacientes e tráfico de arma. "Os arguidos agiram com o propósito de pertencer a um grupo que exaltava a superioridade da "raça" branca face às demais", afirma o Ministério Público, acusando os arguidos de agredir e ofender "pessoas com ideais políticos, raça, religião ou orientação sexual distintos dos seus e incentivando ao ódio e à violência contra aqueles".
Ligações europeias
"Em Portugal, um dos mais ativos grupos é o Escudo Identitário", garante, ainda, a Polícia europeia, que revela que as autoridades nacionais concluíram "que as atividades de grupos neonazis portugueses estão intimamente ligadas a organizações do Movimento Identitário Europeu". Estas ligações internacionais terão influenciado o terrorista Brenton Tarrant. "Portugal confirmou a sua passagem por várias cidades", lê-se no documento.v
Quartel-general
Para a Europol, Tomar é o quartel-general português dos cavaleiros templários, ordem criada em França, no século XII, para combater exércitos muçulmanos, no Médio Oriente.
Viagem solitária
O neozelandês Brenton Tarrant, aparentemente, viajou sozinho e não contactou com ativistas portugueses que pertencem a organizações de extrema-direita.
Ideologia
O movimento de extrema-direita europeu é descrito como muito heterogéneo, tanto de uma perspetiva estrutural como ideológica. "Sabe-se que as organizações estabelecidas existem principalmente dentro do espetro neonazi", refere o relatório.
Ritual
Os candidatos a membros do Hammerskins tinham de cumprir um ritual de iniciação, que incluía estudo aturado, com leituras obrigatórias, e passava por atos de violência contra indivíduos negros, indianos, homossexuais e de ideologia política de Esquerda.
6 ataques de extrema-direita foram registados em três países europeus, no ano passado. O número inclui um ataque concretizado no Reino Unido, um ataque fracassado na Lituânia e quatro desmantelados no Reino Unido e na Polónia.
26 ataques de extrema-esquerda e anarquistas tiveram lugar em 2019. Este número é igual ao registado em 2016 e 2017 e acontece após um decréscimo em 2018. Todos os ataques tiveram lugar na Grécia, Itália e Espanha.