Miguel Rangel Oliveira e Luzia Beatriz Pereira começam a ser julgados esta quarta-feira, no Tribunal de Gaia, acusados, ele, de difamação agravada, e ela, de injúria agravada e ameaça agravada ao vigário-geral da diocese do Porto, António Coelho de Oliveira, no conturbado caso da destituição do padre Roberto de Sousa como pároco de Canelas, em Gaia, em 2014.
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Miguel Rangel foi o criador de um movimento de protesto contra a saída do pároco.
O então bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, falecido em 2017, decidiu transferir o padre Roberto para outra paróquia, gerando um descontentamento popular que dura até aos dias de hoje.
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A paroquiana Luzia Beatriz Pereira, de acordo com o Ministério Público, dirigiu ao vigário-geral uma sms, em novembro de 2014, acusando-se de "não passar de um traidor e de um Judas Iscariotes". "Tenha calma que Deus é grande", terá avisado. Em fevereiro do ano seguinte, enviou nova sms ameaçando: "De hoje em diante, ai daquele que tente fazer mal ao sr. Padre Roberto Carlos Nunes de Sousa. Tem de se haver com a Justiça Divina e o primeiro a levar com ela é o sr. padre António Coelho, depois todos os seus aliados".
"Mas se fosse eu o sr. padre Coelho", prossegue a mensagem, "tinha medo, e sabe porquê? Porque o Santo Padre, o Papa Francisco está do lado de pessoas como o sr. padre Roberto Carlos Nunes de Sousa, porque é bondoso. Não é nem nunca será como os traidores que lhe fizeram mal, como foi o caso do padre António Coelho".
Na sequência da destituição, que sofreu avanços e recuos, até se tornar efetiva em outubro daquele ano, Miguel Rangel fundou a UCR (Uma Comunidade Reage) e, em março de 2015, na página de Facebook daquele movimento, acusou a Cúria do Porto: "após vários encontros secretos, mas notados, comissão laica e Cúria selam o destino do padre Roberto a 27 de outubro".
Polémica ainda dura
"A Cúria curto-circuita a gestão do centro social e paroquial para secar fundos e aproveita esse dado para acelerar a exoneração indigna e imoral do sacerdote", refere Miguel Rangel, acrescentando que a população de Canelas se sentia "traída" e se "revolta, tanto mais que os membros da comissão laica se fartam de gabar-se em público de terem conseguido, agora sim, o que vêm almejando desde 2013".
Mas a polémica em torno do padre Roberto ainda continua em Canelas. A UCR disponibiliza um armazém onde todos os domingos o pároco, que chegou a acusar de pedofilia o seu sucessor (que não chegou a assumir a paróquia), celebra missa.
Movimento
Miguel Rangel tornou-se o rosto mais conhecido da "revolta" de Canelas contra a saída do padre Roberto. Fundou a UCR, que, desde o início, assumiu a defesa do sacerdote, chegando mesmo a reunir com o então bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos. As posições extremaram-se e Canelas é hoje uma paróquia dividida, onde centenas de fiéis assistem às homilias do padre Roberto num armazém da UCR.