Rui Pinto apanhado na Hungria com cópia digital de mais de 1400 páginas da investigação em segredo. Acusado de 147 crimes de tentativa de extorsão, acesso ilegítimo, sabotagem informática e violação de correspondência.
Corpo do artigo
Enquanto negociava com Nélio Lucas uma "doação" entre 500 mil e um milhão de euros, Rui Pinto, escondido atrás da personagem Artem Lubosov, percebeu que este não cederia e já o tinha denunciado à PJ. O gestor da Doyen tentou negar e perguntou se este tinha a certeza. O "hacker" foi taxativo: "Certeza absoluta". E era verdade.
Segundo a acusação do Ministério Público, a 16 de outubro de 2015 a PJ tinha enviado para a Yandex LLC (servidor de internet russo) um pedido de identificação. E tal chegou ao conhecimento do pirata.
Mas mais: possivelmente através de invasão do sistema informático da Procuradoria-Geral da República, Rui Pinto sabia tudo, mas mesmo tudo o que se passava na investigação. A 16 de janeiro passado, quando foi detido em Budapeste, Hungria, as autoridades encontraram, entre outras coisas, cópia digital do próprio inquérito contra o pirata informático. Além da queixa, tinha na sua posse o processo entre as páginas 52 e 1466.
Contratar "técnico"
De acordo com a acusação por 147 crimes de tentativa de extorsão, acesso ilegítimo, sabotagem informática e violação de correspondência, mediante a vigilância da PJ no caso Doyen foi notada mudança nas atitudes tanto do "hacker" como do seu então advogado, Aníbal Pinto. Apesar de exigirem encontro rápido, realçam nas mensagens trocadas não pretenderem cometer qualquer ilegalidade. Aníbal frisa mesmo não estar "completamente dentro do assunto" e não está certo de o poder resolver, "até porque o mesmo parece configurar um crime de extorsão".
Poucos dias depois, a 21 de outubro, o advogado deslocou-se a Lisboa a expensas da Doyen e encontrou-se com Nélio Lucas e o seu advogado numa estação de serviço de Oeiras da A5. O objetivo seria acordarem pessoalmente os termos do contrato. A 26 de outubro, Aníbal Pinto enviava os termos gerais do acordo: 300 mil de honorários, mais IVA, para conseguir um "técnico" que detetasse os ataques informáticos e esclarecesse como poderiam ser evitados. O "técnico" receberia 25 mil euros anuais ao longo de cinco anos.
Não ceder a "chantagem"
A 5 de novembro, e sem qualquer contraproposta, Aníbal Pinto abandona o assunto, sendo da opinião de que "não deverão ceder a qualquer tentativa de extorsão ou chantagem". A 9 de novembro envia uma mensagem a Rui Pinto a afastar-se de um acordo que entende ser "ilegal" e pede-lhe também que não insista em receber dinheiro. "Desiste e evita problemas, pois a PJ vai chegar a ti, vais preso e não te posso ajudar".
A 10 de novembro, Rui Pinto garantia que nunca tinha pretendido cometer qualquer ilegalidade e que tinha induzido Aníbal Pinto em erro. "Não estou interessado em receber um cêntimo, vou por isso entregar pessoalmente nos próximos dias a documentação no DCIAP", escreveu. "Não sou o autor ou um dos autores do tal blogue Football Leaks e desconheço quem seja", garantia, confessando que apenas se tinha "aproveitado" da situação.
FOOTBALL LEAKS
Segredos da Doyen publicados após recusa em pagar
Gorada a tentativa de extorsão, voltaram em força as publicações de documentos da Doyen. Aliás, Rui Pinto até criou uma nova versão do Footbal Leaks numa plataforma alojada na Rússia para prevenir uma eventual suspensão por parte da plataforma norte-americana Wordpress. Além disso, criou uma página no Facebook para divulgar vários links de acesso ao site e a documentos e informações confidenciais da Doyen e do Sporting.
OS ALVOS
Sporting vítima
Rui Pinto também está acusado de ter espiado as caixas de correio eletrónico de altos responsáveis do Sporting. Os visados foram membros da Administração da SAD, mas também elementos das equipas técnicas.
Football Leaks
O Football Leaks, página virtual criada e alimentada por Rui Pinto, chegou a revelar contratos com jogadores e até uma auditoria interna do clube de Alvalade.
F. C. Porto vigiado
O F. C. Porto também foi atacado pelo pirata informático. A revelação de parcerias com os dragões foi um dos argumentos utilizados pelo "hacker" para tentar chantagear a Doyen.
FPF foi alvo
A Federação Portuguesa de Futebol foi outro dos alvos. Contactos dos árbitros e classificações obtidas por estes nas temporadas de 2014/2015 e 2015/2016 foram roubados.
Benfica à parte
A acusação ontem conhecida não inclui os e-mails retirados das caixas de correio eletrónico do Benfica. No entanto, a investigação a este caso seguirá no âmbito de um processo autónomo.