O ministro da Administração Interna arquivou, em outubro, o processo disciplinar instaurado ao comandante do posto da GNR de Odemira por, alegadamente, ter permitido que um cidadão, seu conhecido, participasse numa operação policial que veio a deter dois homens, estrangeiros, suspeitos de aliciar uma menor para sexo.
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Na presença dos militares da GNR, o homem entrou armado no domicílio dos detidos, aí permaneceu durante a realização de diligências de obtenção de prova e dialogou com os visados da busca como se tratasse de um elemento de um órgão de polícia criminal.
Para o instrutor do processo disciplinar, levado a cabo pela Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), ficou "provado que o cidadão teve intervenção concreta na operação policial (circulou com alguma liberdade, comunicou em inglês com os intervenientes, entrou na casa que foi alvo de buscas e portava uma arma)." No entanto, "não resultou provado que o sargento Guilherme Sá tenha incluído o civil na operação, lhe tenha atribuído tarefas ou, sequer, se tenha apercebido que estava armado ou que circulava no interior da casa alvo de buscas enquanto estas decorriam". Daí o arquivamento do processo.
O caso aconteceu a 1 de março de 2019, quando o comandante tomou conhecimento de que uma rapariga de 12 anos estava a ser aliciada para atos sexuais por desconhecidos e que os aliciadores tinham combinado, para aquela noite, um encontro no café “O Jaime”, em Boavista dos Pinheiros, localidade situada a cerca de cinco quilómetros de Odemira. Na sequência, o sargento organizou uma operação policial que, além de intercetar os suspeitos naquele estabelecimento, veio depois a ser transferida para a Travessa do Norte, onde foi realizada uma busca domiciliária.
Entre os participantes que acompanhavam as buscas estava o cidadão A. R. S. O., conhecido dos militares do posto por ser proprietário de uma oficina de reparação de automóveis com quem, há alguns anos, o Comando Territorial da GNR de Beja tem vindo a contratualizar a reparação de viaturas da Guarda. Enquanto decorriam as buscas no piso superior, o cidadão entrou na habitação, envergando um colete escuro e trazendo consigo uma arma de fogo que empunhou logo depois de entrar.
Apesar de não ter sido considerado "plausível" que o sargento não se tivesse apercebido do cidadão no interior da casa durante as buscas, diz a IGAI que a presença do homem não foi estranhada por outros guardas dada a "sua juventude e inexperiência", uma vez que tinham pouco tempo de serviço e desconheciam a identidade concreta de todos os envolvidos, uma vez que pertenciam ao efetivo dos postos de Colos e de Vila Nova de Milfontes, e não de Odemira.
"A familiaridade com os militares no posto, o modo de agir no café e no local das buscas, a naturalidade com que o cidadão se movimentou em todos os locais acompanhando os militares da GNR e até a sua indumentária – que chegou a confundir esses militares mais novos e que, por maioria de razão, não poderia deixar de confundir outras pessoas – foram fatores que geraram um contexto de normalidade em torno da sua presença", lê-se no relatório do instrutor da IGAI Luís Filipe Guerra, de 18 de setembro, que propôs o arquivamento do processo disciplinar. A proposta acabou subscrita pela inspetora-geral da IGAI, a juíza desembargadora Anabela Cabral Ferreira, e, depois, pelo ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, a 10 de outubro.