Autor do crime de Moscavide alegou conflito com origem na cadela do ator Bruno Candé Marques. SOS Racismo e políticos exigem justiça.
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O assassinato, no sábado, do ator Bruno Candé Marques cometido por um homem de 80 anos que, noutras ocasiões, já lhe teria dirigido insultos racistas e ameaçado de morte levou a associação SOS Racismo e várias atores políticos a exigir que seja feita justiça. Interrogado pela Polícia Judiciária (PJ), o arguido rejeitou que o ato tenha tido motivação racista e explicou o crime com desavenças a propósito de um incidente com a cadela da vítima, apurou o JN.
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O crime aconteceu pelas 13.20 horas de sábado, em Moscavide, Loures. De acordo com informações recolhidas pelo JN no local, depois de almoçar e beber num restaurante, o homicida dirigiu-se, a pé, para a Avenida de Moscavide, onde terá mais uma vez encontrado Bruno Candé Marques, de 39 anos, sentado num banco, na companhia da sua cadela.
Terá sido então que o fez cair ao chão e, com este já prostrado, o atingiu com pelo menos três tiros num braço e no peito. Em seguida, tentou fugir, mas, já após largar a arma, acabou apanhado por populares que o retiveram até à chegada da PSP. A arma, que seria ilegal, foi apreendida.
Diz ter sido insultado
À PJ, o idoso explicou o ato com o facto de ser insultado e enxovalhado por Bruno Candé sempre que por ali passava. Mas esta versão contrasta com o testemunho das dezenas de pessoas que anteontem se concentraram no local do crime.
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Ao JN, asseguraram que era, em contrapartida, o alegado homicida, branco, que dizia com frequência à vítima - negro nascido em Portugal - para esta voltar para a sua "terra" e que um dia a iria matar. Na quarta-feira, ter-se-ão desentendido, depois de o idoso ter supostamente batido na cadela.
"O caráter premeditado do assassinato não deixa margem para dúvidas de que se trata de um crime de motivação racial", frisa, em comunicado, o SOS Racismo, que exige que "justiça seja feita" para que este "não seja mais um [assassinato] sem consequências".
Nas redes sociais, foram vários os políticos que comentaram o crime. Ana Catarina Mendes, líder parlamentar do PS, mostrou-se "indignada com a morte do ator Bruno Candé por motivos racistas". "Bruno Candé Marques. Ator, pai de três filhos. Assassinado. Na sua terra", escreveu, por sua vez, no Twitter, a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, sem referir motivação para o crime.
Já André Silva, porta-voz do PAN, defendeu que, "a comprovar-se que o assassinato de Bruno Candé foi motivado por racismo, tem a justiça o dever redobrado de punir exemplarmente o autor". "Racismo é crime e justiça será feita", concluiu a deputada não inscrita Joacine Katar Moreira.
O líder do Chega, André Ventura, considerou, no Twitter, o crime uma "tragédia", mas alegou que Portugal não é "um país racista e que "nada" aponta para um "crime de ódio racial".
"Há certas correntes mais extremadas que estão em fase de negação quanto ao problema do racismo, mas o certo é que ele existe, e existe de forma quotidiana", declarou à TSF, por sua vez, Pedro Neto, diretor-executivo da Amnistia Internacional Portugal.