"Posso não ficar com a menina, mas vocês também não ficam. Mato-vos, a ti e aos teus pais". Esta foi a ameaça proferida em novembro de 2017 pelo duplo homicida do Seixal contra Sandra Cristina, mãe da sua filha, Lara, que, a par da sogra, matou na passada segunda-feira.
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Uma queixa por violência doméstica acabou arquivada em fevereiro do ano passado, depois de o Ministério Público (MP) ter classificado o caso como "ameaça agravada" e alegado que os elementos de prova se limitavam à versão da vítima, que não apresentou testemunhas e desistiu da queixa.
"Na verdade, não foram recolhidos indícios que permitam sequer considerar como fundada uma suspeita de que Pedro Henriques praticou tais factos", lê-se no despacho de arquivamento ontem consultado pelo JN no MP do Seixal.
Quando Sandra se queixou, a PSP classificou o caso de violência como de risco elevado. Sandra relatou que o companheiro tinha acesso fácil a armas e tinha ciúmes doentios. A PSP propôs a medida de coação de proibição de permanência na habitação da vítima. Mas, a 15 de dezembro, o MP entendeu estar-se perante crime de ameaça agravada e não promoveu junto do juiz a aplicação de qualquer medida de coação.
Sandra acabaria por desistir da queixa no fim de janeiro do ano passado, após ter-lhe sido atribuída pelo tribunal a guarda de Lara. Acreditava que Pedro iria alterar o seu comportamento, ao aceitar estar com a menina apenas quando ela (mãe) deixasse.
Chantagem
Sandra e Pedro moravam há seis anos na Torre da Marinha, Seixal, quando, em novembro de 2017, se separaram. Na altura desempregado do ramo da segurança, o homem exigiu que a guarda da pequena Lara fosse partilhada. Caso contrário, matava-a a ela e aos pais.
A mulher tinha descoberto que Pedro utilizava com frequência os seus cartões de crédito sem a sua permissão e, após confrontá-lo, o homem deu-lhe duas opções: passar uma borracha sobre tudo e continuar a relação amorosa ou a separação com guarda partilhada da filha por dois dias para cada progenitor - pode ler-se na queixa de Sandra.
A mãe de Lara queria a separação e considerava que nenhum juiz daria a guarda ao pai, pois a bebé estava em amamentação e o homem não tinha condições económicas. Pedro exigiu então que ela assinasse um documento de concordância. Sandra voltou a não concordar e surgiram as ameaças de morte. Mesmo confrontado com a prisão, que iria afastá-lo da filha, Pedro retorquiu: "Eu não me importo, mas vocês também não ficam com ela".
A seguir, Sandra aceitou que Lara passasse mais tempo com o pai. O que correu mal. Quando estava agendada a alteração das responsabilidades parentais, na segunda-feira, o homem concretizou a ameaça, acrescentando-lhe a atrocidade contra a filha: matou a sogra na Rua do Moinho, fugiu com a menina, asfixiou-a até à morte e pôs fim à própria vida.
Funerais de avó e neta no sábado
Os funerais de Helena e Lara estão agendados para este sábado, sendo os corpos cremados na Quinta do Conde, em Sesimbra. Para esta sexta-feira, está previsto o velório na capela mortuária da Amora, Seixal. Helena Cabrita desejava ser cremada e a família estava já a planear o funeral, quando se soube da morte da pequena Lara.