Paulo Nogueira confessou, esta quinta-feira de manhã, que, em junho de 2024, deu dois tiros em Sónia Marisa Escobar, no interior da loja dela, na Areosa, no Porto.
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No Tribunal de São João Novo, o empresário de 51 anos não soube explicar o que aconteceu. Assegurou que ele e a vítima ainda mantinham uma relação de namoro, mas que depois de a ver novamente com outro homem quis terminar tudo. No dia do crime, foi à loja dela buscar as suas coisas e ao vê-la perdeu a cabeça. Foi ao carro buscar a arma e matou-a. Foi a casa tomar um banho e entregou-se. “Não sei explicar. Sei que não há desculpa”, lamentou.
Paulo explicou que conheceu Marisa em novembro de 2018, através de um serviço de acompanhantes. Encontraram-se uma vez num motel e depois combinaram saídas até que, em janeiro de 2019, começaram “oficialmente a namorar”. O arguido garantiu que estavam a fazer planos para morar juntos, mas que, a partir de fevereiro ou março, começou a notar algumas mudanças.
“Deixou de falar tanto comigo, mas saíamos à mesma”, garantiu, negando que mantivessem a relação apenas por motivos profissionais, pois ela era empregada de uma sua empresa. Questionado pela advogada da família de Marisa, Paulo admitiu que chegou a recorrer a uma taróloga para ver o que se passava e o ajudar na relação.
Paulo Nogueira negou exercer um forte controlo sobre Marisa, mas admitiu que mandou colocar um localizador no carro dela para controlar os seus movimentos, porque os quilómetros que o carro tinha não batiam certo com o que ela dizia. "Era para saber se ela emprestava o carro, não era para andar atrás dela", justificou.
Pelo menos por três vezes, após ela dizer que não podia estar com ele, Paulo foi ver onde estava o carro e foi atrás dela. De todas as vezes, esperou, por vezes algumas horas, até a ver chegar com outros homens. Confrontava-a pelo telefone. “Ela ficava nervosa e não queria falar comigo”, contou. Paulo disse que tentou terminar a relação por várias vezes. "Ela dizia que não íamos estragar uma coisa tão bonita e tão boa. Que gostava de mim. Eu gostava dela e queria que tudo estivesse bem", explicou.
No dia do crime, a 8 de julho de 2024, a seguir ao almoço, viu que o carro estava estacionado junto a umas bombas de gasolina em Canelas, Vila Nova de Gaia. Pediu a um empregado para o levar no carro dele. Ficaram à espera. Esperou até que ela chegasse. Paulo diz que ela chegou com um senhor, apercebeu-se da sua presença e até lhe tirou uma fotografia antes de se ir embora. Depois foi ao estaleiro em Estarreja.
Mais tarde, foi ao GPS e viu que ela estava a ir para a loja. Paulo foi também. Viu que as luzes estavam apagadas e a porta estava fechada. “Fui ao carro, peguei numa chave de bocas e parti o vidro. Meti uma perna e a cabeça a ver se abria a porta”, contou explicando que pensava que ela não estava lá e pretendia ir buscar umas pastas da empresa. "Ela viu-me e gritou: Paulo. Não sei o que se me passou na cabeça. Fui ao carro, peguei na arma, carreguei-a e, não sei o que se passou, entrei por baixo da porta e dei-lhe dois tiros. Estava no corredor a três metros de mim. Não disse nada. Disparei e ela caiu para o chão”, admitiu.
Após ver Marisa cair, ficou "atrapalhado". Foi-se embora e ligou ao irmão dela a dizer que tinha disparado contra ela e que a podia ter matado. Foi a casa, contou à mãe o que tinha feito, disse que ia tomar um banho e que se ia entregar à polícia. E assim fez. Foi detido e está preso preventivamente em Custóias.
Paulo explicou que tinha a caçadeira do pai na mala porque ele lhe tinha pedido dias antes para a deixar no espingardeiro para arranjar o gatilho que às vezes prendia. E que também lhe tinha dado uma caixa de cartuchos para entregar. O arguido disse que estava muito arrependido e lamenta o que fez. Questionado sobre se alguma vez tentou saber do estado do filho de Marisa, Paulo admitiu que não. “Estive para lhe escrever uma carta, mas depois nunca o fiz”, afirmou.
Família reclama 225 mil euros
A família da vítima reclama uma indemnização de 225 mil euros a Paulo Nogueira. A mãe de Marisa Escobar reclama o dinheiro em nome do neto, de 11 anos, de quem tomou conta, após o crime. “Tendo presente que é impossível atribuir um valor à vida humana e apesar de não haver dinheiro no Mundo que apague a dor e angústia pela perda de uma filha e mãe, os assistentes entendem que deve ser fixado um valor que minimize, o mais possível, tamanha dor”, lê-se no pedido de indemnização remetido ao processo.
De acordo com a acusação do Ministério Público, Paulo Nogueira, 51 anos, matou a ex-companheira com dois tiros de caçadeira à queima-roupa, na loja da vítima “Mais Essência”, no Porto. Fê-lo por achar que Marisa, 48 anos, andava a gozar com ele. Pelo menos, foi o que afirmou ao irmão da vítima, num telefonema feito momentos após o crime.
Colocou GPS no carro dela
O relacionamento entre o empresário de construção civil e a lojista durou cerca de cinco anos. Em novembro de 2023, Sónia decidiu terminar o namoro de vez, mas Paulo nunca aceitou o fim da relação. Movido por ciúmes, sem ela saber, colocou um GPS no carro dela e ainda instalou uma aplicação no telemóvel para lhe controlar todos os movimentos.
A 8 de julho do ano passado, viu que o carro de Sónia estava estacionado num posto de combustível em Gaia. Suspeitando que ela estaria com um namorado, Paulo saiu de casa, armado com a caçadeira do pai. Ficou à espera perto do carro dela das 14.30 às 18.30 horas, quando a viu chegar num carro com outro homem. Ficou louco de ciúmes. Uma hora depois, viu que Marisa estava na sua loja de fragrâncias, e foi ao seu encontro.
Dois tiros à queima-roupa
A porta da loja estava fechada. Pegou numa pesada chave de bocas e partiu o vidro da porta. Regressou ao carro, deixou a chave e pegou na caçadeira. Entrou de arma empunhada e, a dois metros de Marisa, disparou dois tiros à queima-roupa. Ela morreu no local.
Paulo fugiu e foi para casa dos pais, em Estarreja, onde residia. Atirou a caçadeira para um descampado em frente da residência. Entrou em casa, mas acabou por se deslocar à GNR onde confessou o homicídio. Entretanto, o pai acabou por ir buscar a arma, limpou-a e retirou os cartuchos. O Ministério Público entendeu que havia favorecimento, mas que o pai não podia ser criminalmente responsabilizado.