Cinco acusados pelo Ministério Público prometeram bons salários a imigrantes ilegais que acabavam a viver em condições indignas.
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Dezenas de cidadãos indianos ilegais foram escravizados na agricultura no concelho de Serpa e obrigados a viver em condições indignas, sob ameaças de agressões físicas e psicológicas. Quatro indianos e um paquistanês foram agora acusados pelo Ministério Público (MP) de crimes de auxílio à imigração ilegal, associação de auxílio à imigração ilegal, tráfico de pessoas e associação criminosa,
Segundo a acusação, os crimes tiveram início em 2019. Gurjit Singh, com ajuda dos outros arguidos, controlava todos os passos dos explorados, que chegavam a Portugal e eram contratados pela empresa Surpresa Erudita Unipessoal, Lda, registada em nome de Sukhpal Kaur Brar, mas de facto gerida por Gurjit. As ofertas de emprego "eram tentadoras", mas a realidade era bem diferente. Os prometidos 600/635 euros mensais, "descontadas todas as alcavalas", não chegavam a 350 euros, com jornadas diárias de 12 horas.
Foi também Gurjit quem alugou, em Serpa, a José Horta, uma habitação de rés-de-chão e 1º andar, pela qual pagava 500 euros mensais, onde alojou os cidadãos explorados, cobrando a cada um entre 100 a 120 euros de renda. Se se recusavam a obedecer eram ameaçados com abusos sexuais às mães e irmãs que tinham deixado na Índia. O MP calculou que o grupo tenha conseguido 296.209,47 euros à custa dos explorados.
Eterno arrendatário
José Horta, conhecido como "José do Casarão" aluga casas para colocação de trabalhadores imigrantes, em Serpa, Beja e outras localidades. Neste processo surge como testemunha de acusação, mas no caso batizado como "Corda Bamba" pela Polícia Judiciária foi um dos 26 detidos numa trama de auxílio à imigração ilegal. Treze desses arguidos, julgados em abril de 2018, por tráfico de seres humanos e associação criminosa, foram condenados a cadeia entre os seis e os 16 anos. "José do Casarão" foi um dos absolvidos.