Rede transnacional enviou um milhão de cartas de Lisboa para estrangeiros sem ligação a Portugal. Outras células podem ter burlado cidadãos nacionais.
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Uma rede de burlões com ramificações em vários países é suspeita de ter enganado, a partir de Lisboa e desde 2019, "largas dezenas" de idosos residentes noutros países, sem qualquer ligação a Portugal, com a garantia falsa de que tinham herdado uma fortuna de um familiar distante.
A organização foi agora desmantelada numa ação coordenada pela Europol, com a participação da Polícia Judiciária (PJ). No total, foram detidas em território nacional 16 pessoas com idades compreendidas entre os 26 e 53 anos. Catorze ficaram em prisão preventiva. A PJ teme que outras células no estrangeiro possam, em sentido inverso, ter burlado cidadãos portugueses.
Segundo o coordenador de investigação criminal da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ, Luís Ribeiro, os suspeitos terão enviado, desde 2019, um milhão de cartas em vários idiomas, depositadas em agências dos CTT em Lisboa. A maioria dizia que o destinatário herdara uma fortuna e que, para a receber, teria de remeter os documentos e dados pessoais.
Mais tarde, as vítimas receberiam documentação supostamente emitida pelas autoridades nacionais, acompanhada da indicação de que teriam de pagar taxas ou seguros para ter direito ao dinheiro. O nome de advogados era usado para dar credibilidade ao pedido.
Alguns dos lesados terão feito chegar aos burlões "largas dezenas de milhares de euros". "Enquanto as vítimas fossem pagando, não as largavam", referiu, em conferência de imprensa, Luís Ribeiro. A célula lisboeta terá lucrado, pelo menos, três milhões de euros.
recorriam a "mulas"
Para receber o dinheiro, os alegados burlões - 13 homens nigerianos - terão tido o apoio de três mulheres portuguesas, que, a troco de contrapartidas, disponibilizariam as suas contas para transferências bancárias. Outras das supostas taxas terão sido pagas através de serviços como a Western Union e da MoneyGram.
Além das falsas heranças, a organização enganaria idosos com a indicação de que tinham ganho um prémio milionário na lotaria ou noutro jogo e que, para o receberem, teriam de enviar os seus documentos. As vítimas são americanos, franceses, suíços, alemães, polacos e mexicanos.
Correios
450 mil euros gastos pela rede no envio de cartas para o estrangeiro, desde dezembro de 2021. As missivas foram depositadas em agências dos CTT em Lisboa.
Repartiam envios
Os burlões terão tido o cuidado, em cada envio, de não gastar mais de mil euros, para não alertar os CTT. A empresa colaborou com a PJ na investigação.