Não é somente o centro de acolhimento do Lar Evangélico Português que, tal como o JN avançou na segunda-feira, está a ser alvo de um inquérito-crime.
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Também o lar de idosos da instituição sediada em Águas Santas, na Maia, está a ser investigado pelo Ministério Público. Em causa estarão o número reduzido de funcionários para os cerca de 50 utentes institucionalizados, equipamentos de cozinha degradados, tijoleiras dos corredores e das salas partidas e quartos e casas de banho sem aquecimento.
Ao JN, a Segurança Social (SS) revela que instaurou um processo para suspender o acordo de cooperação com o Lar Evangélico, na sequência de uma inspeção que detetou várias irregularidades. Mas o ex-presidente da instituição, João Duarte, tal como já tinha feito relativamente às acusações da existência de abusos sexuais no centro de acolhimento, volta a negar as críticas, que justifica com uma guerra pelo poder na instituição.
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A falta de condições no lar de idosos foi denunciada durante uma assembleia da Terceira Igreja Evangélica Baptista do Porto, na qual são eleitos os órgãos sociais do Lar Evangélico.
Numa sessão no início de dezembro último, os fiéis exigiram que a direção da Igreja lesse um abaixo-assinado entregue pelos familiares de vários dos cerca de 50 idosos institucionalizados. O documento, confirmou o JN, acusava os responsáveis do lar de negligenciar os cuidados de higiene das instalações, o que provocava maus cheiros na sala de estar, e de não ter funcionários em número suficiente.
Quartos sem aquecimento
Em consequência da falta de pessoal, os utentes chegavam a ficar tardes inteiras sem vigilância e a medicação não estava pronta à hora das refeições, durante as quais alguns dos idosos eram obrigados a comer sem auxílio.
Filipe Carvalho, cuja mãe esteve internada no lar entre abril de 2017 e o final do ano seguinte, não subscreveu o abaixo-assinado, mas ao JN repete as mesmas queixas. "Quando, no verão de 2017, o presidente começou a despedir, o pessoal começou a ser em número insuficiente e isso refletiu-se na limpeza das instalações e no serviço de cozinha", refere.
"Houve noites em que só havia dois funcionários para cerca de 40/50 utentes. A minha mãe estava colocada num quarto com tijoleiras partidas e o equipamento da cozinha não estava em condições", acrescenta. Filipe Carvalho, que elogia o esforço dos auxiliares que permaneceram na instituição, fala ainda em quartos e casas de banho sem aquecimento durante um largo período.
As denúncias chegaram à SS que, entretanto, detetou "irregularidades" no âmbito de uma fiscalização. "Algumas das quais, face à sua relevância, motivaram o encaminhamento do processo para o Ministério Público, onde decorre o respetivo inquérito-crime", informa a SS, acrescentando que "a instituição foi notificada, em sede de audiência de interessados, da intenção de suspensão do acordo de cooperação celebrado". O processo ainda decorre e João Duarte fala em "situações pontuais" que foram resolvidas.
Pormenores
Abusos sexuais
O Ministério Público (MP) está a investigar também alegados abusos sexuais ocorridos no centro de acolhimento do Lar Evangélico. Agressores e vítimas eram utentes da instituição.
Jovem detido
Em fevereiro, um rapaz de 17 anos, a viver no centro de acolhimento há 10 anos, foi detido pela Polícia Judiciária. É suspeito de abusar de três colegas mais novos.
Valências abertas
Apesar das investigações da SS e do MP, o centro de acolhimento e o lar de idosos do Lar Evangélico continuam em funcionamento, na Maia.
Contratação de pessoal qualificado
João Duarte admite a saída de pessoal do lar de idosos, mas garante que todos os funcionários foram substituídos. "Dotámos a instituição de recursos humanos mais qualificados. As pessoas que recrutámos eram todas licenciadas", salienta o ex-presidente do Lar Evangélico.
Luta de poder
"As denúncias começaram apenas seis semanas após a nossa tomada de posse. Houve uma lista que pensava que ia ganhar as eleições e criou-nos muita dificuldade. Foram quatro anos muito difíceis, mas a nossa tolerância foi zero para quem não cumpria as regras", defende João Duarte.