Ministério Público pediu escuta ambiental e gravações efetuadas na viatura foram validadas pelo juiz Carlos Alexandre.
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Luís Filipe Vieira, um dos principais arguidos da operação "Cartão Vermelho", foi alvo de escutas ambientais que permitiram ouvir as conversas que o ex-presidente do Benfica mantinha no Mercedes que habitualmente utilizava. O Ministério Público ordenou a captação de som no interior do carro até ao dia em que o ex-presidente do Benfica foi detido, em julho do ano passado.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, a investigação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) decidiu colocar sob escuta Luís Filipe Vieira largos meses antes da sua detenção. Porém, apesar de ter ordenado interseções a pelo menos uma dezena de números de telemóveis diferentes usados pelo então presidente do Benfica, o procurador Rosário Teixeira e o inspetor tributário Paulo Silva começaram a desconfiar que Vieira utilizava essencialmente aplicações informáticas encriptadas de conversação para falar sobre negócios privados, mas também sobre o Benfica.
Por isso, decidiram ordenar vigilâncias e seguimentos a Vieira, mas também a outros dos arguidos que viriam a ser detidos, em julho do ano passado. Tiago Vieira, filho do ex-líder encarnado, José António Santos, o "Rei dos Frangos", e o agente de futebol Bruno Macedo, suspeitos de abuso de confiança, burla, fraude fiscal e branqueamento, foram alvo de escutas telefónicas e de vigilâncias.
Um dos seguimentos de que Vieira foi alvo, registado em imagens juntas ao processo, aconteceu a 29 de junho do ano passado, apenas uma semana antes das detenções. O então presidente do Benfica deslocou-se à Amadora para um encontro com o empresário José Guilherme, destinado a obter o seu aval sobre a venda de ações da SAD encarnada ao amigo de Vieira, José António dos Santos.
provas relevantes
A escuta ambiental ordenada por Rosário Teixeira e colocada no Mercedes do principal arguido da operação Cartão Vermelho terá permitido à investigação obter provas relevantes para o processo. O procurador pediu, por isso, a validação das gravações feitas a partir do carro até ao dia 7 de julho, data da detenção de Vieira. Num despacho datado de 13 de julho, o juiz de instrução criminal Carlos Alexandre validou os elementos de prova recolhidas nessa escuta ambiental.
Vieira está indiciado por ter criado um esquema destinado a desfalcar o Benfica, através de comissões fictícias ou inflacionadas de vários jogadores. O MP quer passar a pente fino as transferências de 55 atletas, entre eles Everton "Cebolinha", Witsel, Weigl, Seferovic, Talisca, Jonas, Raúl de Tomás ou Samaris. No total, serão cerca de dez milhões de euros que o Benfica pagou aos empresários Bruno Macedo, Ulisses Santos, Isidoro Gímenez e Giuliano Bertolucci. A investigação suspeita que estes agentes serviram de testas de ferro de Luís Filipe Vieira.
Numa outra linha de investigação, o MP acredita que Vieira deu um golpe ao Fundo de Resolução, através da compra da dívida de 54 milhões de euros que a Imosteps tinha com o Novo Banco. Esta dívida terá sido indiretamente adquirida por Vieira por nove milhões, financiados pelo "Rei dos Frangos".
O ex-presidente encarnado também terá arquitetado um plano para que o amigo José António dos Santos lucrasse cerca de 10 milhões de euros com a venda das ações da SAD do Benfica.