Este ano já foram apreendidas mais de sete toneladas de cocaína em Portugal, pelas diferentes entidades policiais. Só a Polícia Judiciária (PJ) detetou e apreendeu 6,5 toneladas, quantidade maior do que as cinco toneladas registadas em todo o ano passado.
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Fonte da PJ explica o crescimento que se verifica há quatro anos consecutivos com o aumento de produção deste tipo de droga na América do Sul, principalmente na Colômbia, e também com uma atividade mais intensa de cartéis e organizações criminosas que usam Portugal como porta de entrada da cocaína na Europa.
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Aliás, os números apurados por cá estão em linha com os revelados pelo Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência que, no relatório anual de 2019, cujos dados são relativos a 2017, refere que "as quantidades apreendidas de cocaína na União Europeia (UE) atingiram os níveis mais elevados de sempre, com mais de 104 000 apreensões de cocaína registadas, num total de 140,4 toneladas".
Esta entidade salienta que "a quantidade de cocaína apreendida ultrapassou o anterior pico, registado em 2006, em mais de 20 toneladas e representou o dobro da quantidade apreendida em 2016".
Bélgica (45 toneladas) e Espanha (41 toneladas) representaram 61 % das cerca de 86 toneladas apreendidas na UE, em 2017. Foram ainda apreendidas grandes quantidades de cocaína em França (17,5 toneladas) e na Holanda (14,6 toneladas).
Em Portugal, a maioria da cocaína apreendida estava a ser traficada através de barcos que zarparam do Brasil e tinham como destino final diferentes países europeus. "A via marítima continua a ser privilegiada para fazer chegar grandes quantidades de cocaína à Europa. Os traficantes usam veleiros e contentores para esconder a droga, pois esta é a forma mais fácil de transportar grandes quantidades", explica ao JN um responsável da Judiciária.
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Portugal é "ponto de trânsito"
A mesma fonte acrescenta que, atualmente, "há uma maior produção de cocaína" na Colômbia, Peru e Bolívia, fruto do crescimento das áreas de cultivo. Com mais cocaína disponível, as organizações criminosas têm reforçado os esforços para introduzir este tipo de estupefaciente no continente europeu, onde um maior poder de compra dos consumidores faz aumentar o preço da droga comparativamente a outras zonas do globo. "Mas a droga não chega a Portugal diretamente dos países produtores. Quase sempre, ela passa primeiro pelo Brasil, o principal ponto de saída de cocaína. Isto acontece porque o Brasil é um país menos vigiado do que os países produtores e, depois, porque há imensas ligações entre Portugal e o Brasil", avança o especialista no combate ao tráfico.
A localização geográfica privilegiada também transforma Portugal "num ponto de trânsito" da cocaína para países como Espanha, França, Bélgica e Holanda, nações que têm agregado esforços para combater o tráfico de cocaína. "Há, cada vez mais, uma resposta coordenada das autoridades nacionais e internacionais, que torna mais eficaz a fiscalização deste fenómeno criminoso. Na generalidade dos países europeus, tem crescido o número de apreensões", destaca a fonte da PJ.
Mais droga escondida em malas de viagem
Mãe e filha, de 46 e 28 anos, entraram num avião que, na segunda-feira, fazia a ligação entre Brasil e Portugal. À chegada ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, as duas foram detidas, porque as malas que as acompanhavam escondiam 93 500 doses de cocaína que, caso não fossem detetadas, iam ser entregues a um membro de uma rede criminosa que as esperava e estava pronto para, através de um esquema já preparado e que integra vários elementos, introduzir a droga no mercado interno, mas também para a fazer chegar a outros países.
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Apesar de apenas 250 quilos da cocaína apreendida este ano pela PJ ter sido traficada por via aérea este é um exemplo de um fenómeno cada vez mais frequente no aeroporto de Lisboa. "Há dias em que existem 15 voos entre Brasil e Portugal e os traficantes veem este meio de transporte como uma boa forma de fazer chegar a droga à Europa", justifica fonte da Judiciária.
Mais competências
A mesma que recorda que, noutros casos, as "mulas" - designação dada a quem transporta a droga escondida - engolem pequenas quantidades de cocaína embrulhadas em plástico para, uma vez chegadas a Portugal e ultrapassados os controlos aeroportuários, entregar o produto estupefaciente à organização. "Também há muitos passageiros da América do Sul que são detidos nestas circunstâncias. Os correios de droga já existem há muito tempo, mas apesar de irem inovando os métodos de tráfico, as autoridades também vão ganhando experiência e mais competências. Isto faz com que as apreensões sejam cada vez mais frequentes em Portugal", refere.
Métodos
Técnica Rip Off
Droga escondida em contentores
Os cartéis usam frequentemente contentores transportados de barco entre a América do Sul e Portugal para traficar droga. Através desta técnica, conhecida por Rip Off, a cocaína é introduzida num contentor repleto de diferentes tipos de produtos sem que o responsável pela encomenda do material tenha conhecimento. Uma vez chegado ao porto, o contentor é aberto por um elemento da organização - quase sempre um funcionário do porto - que recolhe a droga e troca os selo colocados nas portas do contentor, dando a impressão que este se manteve inviolado.
Pesqueiros
Transferência em alto-mar
Em muitos casos, a cocaína sai da América do Sul em embarcações pertencentes às redes criminosas e que percorrem várias milhas. Quando já se encontram em alto-mar, as toneladas de cocaína são transferidas para barcos de pesca com bandeira portuguesa ou espanhola com a colaboração da tripulação pesqueira. A droga segue camuflada no porão destes navios até ao porto onde, logo que possível, é passada para viaturas que a fazem desaparecer. Noutras ocasiões, a droga é transferida para lanchas da rede antes do pesqueiro chegar à costa.
Camuflagem
Fruta escondia estupefaciente
Em janeiro deste ano, foi desmantelada uma estrutura criminosa, com atividade em diversos países, que se dedicava ao tráfico de grandes quantidades de cocaína. Foram apreendidos cerca de 430 quilos, que tinham chegado ao Porto de Leixões no interior de um contentor de fruta. Foram também detidos, em Espanha, oito indivíduos.
Cruzeiros
Tráfico duranteas férias
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Um casal de reformados inglês foi contratado por uma organização para traficar droga entre as Caraíbas e a Europa. Para não levantar suspeitas, o casal, ele com 72 anos e ela com 70, recorria a cruzeiros em paquetes de luxo.