Jornalista relata ameaças na AG do Porto: “Vão-se embora, senão vai ser pior que Gaza”
Um repórter de imagem destacado para cobrir a Assembleia Geral Extraordinária (AGE) do F. C. Porto disse, esta terça-feira, no Tribunal de São João Novo, que foi ameaçado pelo arguido Vítor Catão e por um grupo de jovens. Temendo pela sua saúde, teve de abandonar o local, não conseguindo fazer o seu trabalho, contou.
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No dia 13 de novembro de 2023, o repórter de imagem e um jornalista da CMTV foram num carro descaracterizado e terão chegado ao Estádio do Dragão por volta das 17.30, 18.30. Ainda estavam dentro do carro quando Vítor Catão lhes disse, “aos berros", para se irem embora, que não estavam ali a fazer nada. “Saio do carro para ir conversar com ele e tentar perceber aquela atitude, mas não consegui, porque havia dois elementos dos Super Dragões a tentar acalmá-lo”, explicou o repórter ao tribunal.
Vítor Catão prosseguiu com as ameaças: “O carro vai sair daqui todo amassado e vocês com o corpo quente”. Começaram a juntar-se vários adeptos do F. C. Porto e os jornalistas decidiram sair do local”. “Ainda hoje estou a tentar perceber o que aconteceu”, disse a testemunha, admitindo que, se fosse possível, desistiria de queixa contra o conhecido sócio portista.
Ao início da noite, os dois jornalistas regressaram à zona do P1. Quando o repórter tirava o tripé da mala do carro, um grupo de jovens ameaçou-o a ele e ao colega, para se irem embora, “senão ia ser pior que Gaza”. A dupla já não tirou o tripé da viatura de serviço e foi-se embora. “Sentiram medo e não conseguiram realizar o seu trabalho?”, questionou a procuradora, ao que o jornalista respondeu afirmativamente, confirmando ainda que, na ocasião, houve um comunicado de repúdio por parte do Sindicato de Jornalistas.
Vítor Catão, que já confessara os factos no início do julgamento, fez esta manhã questão de pedir desculpas pessoalmente ao repórter, à sua família e à sua empresa por tudo o que aconteceu, estendendo ainda as desculpas ao tribunal e a todos os presentes.
Hospedeira confirma roubo de pulseiras
Na manhã desta terça-feira, uma hospedeira de serviço na Assembleia Geral Extraordinária do F. C. Porto confirmou que, a certo momento, alguém de um grupo de pessoas a quem não tinha sido dada entrada roubou uma caixa com pulseiras. “Não faço ideia de quem era”, disse Catarina em tribunal. A pedido da procuradora do Ministério Público, ainda olhou para trás, para os arguidos, mas não conseguiu identificar ninguém. “Já foi já tanto tempo”, justificou.
A caixa foi depois devolvida a um segurança, Catarina acredita que já sem algumas das pulseiras, porque, depois, viu pessoas a entregar o cartão de sócio para serem acreditadas já com a pulseira colocada.
A advogada do F. C. Porto quis confrontar a testemunha com as declarações prestadas anteriormente, junto da polícia, especialmente quando em tribunal disse que não ouvira gritos e que o grupo de pessoas não fizera pressão para entrar ou para receber pulseiras, ao contrário do que tinha afirmado à investigação. Porém, como os advogados dos arguidos se opuseram, tal não foi possível.
Sócio confessa que teve receio
“Nunca imaginei que ia estar naquela situação. Tive receio”, recordou Pedro, 47 anos. O sócio do F. C. Porto explicou que a primeira confusão na Assembleia Geral Extraordinária ocorreu perto de si, na bancada Norte, após alguém ter protestado por ainda estarem sócios no exterior.
“Veio uma pessoa a correr pelo ringue, parou e começou a gritar coisas como 'ingratos' ou 'mal-agradecidos'”, descreveu o sócio. Depois, a mesma pessoa começou uma discussão com uma família e agrediu o mais jovem, tendo o mais velho reagido com “um estalo ou um soco”. Gerou-se um tumulto e o sócio fugiu para o ringue, relatou.
“A partir daí, a Assembleia não teve muito mais lógica. Houve discussões, mais já a ver com o decorrer da Assembleia”, considerou. Após o discurso do sócio Henrique Ramos, houve novo tumulto, primeiro com um só sócio, e depois com um grupo de pessoas que foi confrontar Henrique Ramos. Pedro disse que se recordava de ver Fernando Madureira e Vítor Catão a andar de um lado para o outro. Apercebeu-se de Catão a andar a falar alto de um lado para outro, mas não o viu, nem Fernando Madureira, envolvido em nenhuma confusão.
Testemunha multada por não avisar da falta
No início da sessão, a juíza Ana Dias Costa foi confrontada com a ausência de uma testemunha, outro jornalista que terá sido intimidado e coagido por Vítor Catão no início da Assembleia Geral Extraordinária do F. C. Porto. A testemunha justificou que não podia comparecer por se encontrar ao serviço da entidade patronal, em Aveiro. Uma vez que a testemunha já sabia desse compromisso e não informou o tribunal com a devida antecedência, foi multada em duas unidades de conta: 204 euros.