"Afinal, onde é que estão as famosas "provas" ou "fortes indícios" dos crimes que me imputam", afirmou, esta terça-feira, José Sócrates, em mais uma entrevista, desta vez dada à SIC. Nela, repete com outra abrangência o que já referiu noutras entrevistas, mas é nessa acentuada repetição que volta a exigir a sua libertação e conhecer em concreto quais os crimes que cometeu para ser detido e metido em prisão preventiva, desde 25 de novembro, na cadeia de Évora.
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"Ao certo, de que crimes é que estamos a falar?", interrogou-se o ex-primeiro-ministro, suspeito de corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais, para logo adiantar: "É essa resposta que falta. E, enquanto faltar, nem esta prisão preventiva se justifica nem este processo pode ter futuro".
"Estilo de vida"
Sócrates comentou a ausência desse futuro processual do seu caso quando questionado sobre o seu "estilo de vida" e das ligações com o seu amigo Carlos Santos Silva, também em prisão preventiva pela suspeita dos mesmos crimes e a quem o ex-primeiro-ministro socialista admite ter pedido "empréstimos" que tenciona pagar. Era, recorde-se, numa casa paga (por mais de 2 milhões de euros) pelo amigo, ex-administrador do grupo Lena, que Sócrates vivia em Paris.
"Não admito, nem alimento, esses julgamentos [Sócrates acusou o Correio da Manhã de lhe fazer "um julgamento moral"]. Nem sequer para comentar a mesquinhez dos que acham que é um "luxo" tirar um mestrado em Sciences Po ou ter filhos a estudar numa escola estrangeira", comentou Sócrates, que começou a entrevista criticando a sua prisão preventiva por terem considerado haver perigo de fuga. Lembra que, dois dias antes de ser detido, participou num seminário académico, em Paris. E que na capital francesa só adiou o regresso a Lisboa porque o seu advogado o foi visitar. "A verdade é que eu voltei", admitiu, explicando que o fez apesar de, em Paris, ter tido conhecimento "das buscas em casa" do filho "e da notícia da detenção de pessoas que me são próximas" [o JN já noticiou que quem o fez foi a ex-mulher, Sofia Fava].
Critica segredo de justiça
Posteriormente, o ex-primeiro-ministro explicou que o seu advogado enviou um email ao diretor do DCIAP dizendo que ele, Sócrates, "dispõe-se a comparecer onde e quando for determinado para ser ouvido". Criticando os procedimentos dos procuradores, reage com violência: "O que é absolutamente extraordinário é que esse email, enviado às 15,54 horas do dia 21 só tenha sido oficialmente recebido às 16,04 do dia 25, depois de decretada a [minha] prisão preventiva", referiu, classificando de "pequeno truque ignorar o email e sustentar o perigo de fuga", que, devido à sua disponibilidade em comparecer perante a justiça, considera "absurdo". Já sobre a sua detenção, Sócrates diz que ela é "um abuso das regras e do Direito". E assevera: "Nada teve a ver com a Justiça, mas com o espetáculo".
O ex-primeiro-ministro critica ainda a investigação, que diz jogar "com as fugas seletivas do segredo de justiça para obter a condenação antes da sentença". Por causa dessas fugas, diz já ter aberto um processo e estar à espera que o convoquem para prestar declarações.
Aliás, no âmbito dessas fugas, admitiu que em maio de 2014 foi avisado por Afonso Camões, então administrador da Lusa, de que estava a ser investigado. O próprio Camões, já na condição de diretor do Jornal de Notícias, pediu um encontro com a procuradora geral da república para confirmar que então avisara Sócrates dessas investigações e criticar o segredo de justiça por ter sabido disso através de um jornalista.