O adolescente que em 2018 agrediu um colega da escola secundária de Cucujães, deixando-o com uma incapacidade física superior a 80% e com graves sequelas neurológicas, declarou ao Tribunal da Feira, na manhã desta terça-feira, que ficou arrependido "para toda a vida".
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Os factos remontam a 30 novembro 2018, cerca das 8.40 horas, e ocorreram junto à paragem do autocarro situada em frente à Escola Secundária Dr. Ferreira da Silva, em Cucujães, no concelho de Oliveira de Azeméis.
De acordo com a acusação do Ministério Público (MP), o arguido Filipe Silva, na altura com 17 anos, e André Filipe Sousa Martins, da mesma idade, envolveram-se numa discussão e em agressões mútuas. "Ele veio ao meu encontro e deu-me um empurrão", justificou o arguido, que é acusado de ter desferido murros e pontapés na cabeça e em outras partes do corpo do colega de escola.
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Perante os juízas, Filipe Silva confirmou apenas que deu dois murros, um cada lado do rosto, negando agressões na cabeça ou pescoço. Acrescentou que se separaram quando o pai de um aluno deu um grito para que parassem.
Depois, "o André perguntou se só tinha isto para lhe dar [a agressão] e caiu", recordou o arguido, que deixou o estudante prostrado no chão e foi para a sala de aula.
"Se soubesse o estado em que ele estava, tinha prestado auxilio", garante agora Filipe Silva, que disse ter sido "horrível saber o estado em que ele ficou". "Até hoje carrego esse peso".
O arguido confirmou, ainda, ter um passado escolar marcado por outras contendas com colegas e que andava a ser seguido por uma psicóloga.
Um dos colegas do arguido, testemunha no processo, afirmou que ambos, arguido e vítima, já "andavam picados". Lembrou que, quando se encontrava na paragem na companhia do Filipe Silva, André Martins chegou no autocarro. Nessa altura, o arguido e André Martins terão trocado "gestos com o dedo do meio", contou a testemunha.
"O André saiu disparado do autocarro, atirou a mochila para o chão e foi na direção do Filipe. Pegaram-se os dois", precisou a testemunha. Disse ainda que ambos infligiram agressões na zona da cabeça de um e do outro.
Segundo o MP, em consequência desta luta, o ofendido ficou cambaleante, não conseguindo caminhar, e veio a cair ao chão, inicialmente ainda consciente. Depois, perdeu os sentidos, recuperou e voltou a ficar inanimado, apresentando um hematoma de cor vermelha na testa do lado direito.
Ainda de acordo com a acusação, apesar de ver que o André Martins não estava bem, o arguido acabaria por abandonar o local junto à paragem de autocarro e dirigiu-se para o interior da Escola. A vítima ficou entregue à sua sorte, não tendo aquele prestado qualquer auxílio. Foram outras pessoas a chamar auxílio.
Deprimido e com dificuldades em andar
André foi socorrido pelos Bombeiros, que o transportaram para o Hospital de Santa Maria da Feira. Mais tarde, seria transferido para o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, devido à gravidade do seu estado de saúde, onde chegou em estado comatoso.
O MP diz que André Martins sofreu Traumatismo crânio encefálico e cervical, seguido de AVC (acidente vascular cerebral) carotídeo esquerdo com oclusão da artéria cerebral média e restrição de fluxo da artéria cerebral anterior
Em sequência da agressão física perpetrada pelo arguido, a vítima ficou com sequelas neurológicas consolidadas.
Em maio de 2019, foi-lhe atribuída a André Martins um atestado médico de incapacidade multiúso que lhe atribuiu 87% de incapacidade.
Em declarações, ao JN, o pai da vítima, Marcos Martins, afirmou que o filho vive atualmente em estado de depressão, devido à sua condição física. Está consciente, mas com complicações severas na locomoção, conseguindo movimentar-se de pé com muita dificuldade. Tem, ainda, dificuldades na fala. Motivo pelo qual tem estado em tratamentos consecutivos, tentando minimizar as mazelas que "ficarão para toda a vida".