Ex-presidente da Assembleia Geral, suspeito de tráfico de seres humanos, criou competição paralela chamada "Liga SABSEG". Imagem projetada poderá ter ajudado a atrair jogadores estrangeiros.
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A Liga SABSEG, designação da segunda competição do futebol profissional, a Liga 2, também era um torneio entre equipas regionais organizado pela Bsports, a academia fundada pelo ex-presidente da Assembleia Geral (AG) da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Mário Costa, que está a ser investigado por tráfico de seres humanos. A imagem desta liga paralela também poderá ter sido um chamariz para trazer para Portugal jovens estrangeiros candidatos a jogadores de futebol.
A prova tinha o mesmo nome de um dos patrocinadores oficiais da LPFP, a SABSEG, corretora de seguros, mas na prática era um campeonato oficioso que servia para a equipa da academia ganhar ritmo frente a adversários regionais dos distritos do Porto e Braga. Alguns jogos até chegaram a ser transmitidos nas redes sociais da Bsports e tinham antevisões dos treinadores.
O uso de nomes semelhantes nas duas competições poderá ter induzido pais e atletas estrangeiros a pensarem que iriam competir no segundo escalão profissional do futebol português, até porque há um vídeo de um dos responsáveis da empresa a ser entrevistado por um jornalista de El Salvador e a explicar que os jogadores podiam "mostrar-se" na segunda divisão portuguesa. O prestígio da empresa em países como a Colômbia, México, Brasil, Peru e El Salvador levava pais a desembolsar 500 a 1800 euros mensais para os filhos frequentarem a academia. As condições precárias em que viviam os jovens estão sob investigação.
Questionada pelo JN, a Liga garantiu que desconhecia a utilização do "naming" da marca Liga SABSEG na referida prova. "A Liga Portugal não tinha, nem tinha de ter, qualquer conhecimento relativo à existência ou denominação desta competição ou de qualquer outra atividade relacionada com a Bsports. As denominações de todas as competições organizadas pela Liga Portugal estão patenteadas e é naturalmente esse o caso da Liga Portugal SABSEG", adiantou fonte oficial da entidade presidida por Pedro Proença, que acrescentou ainda: "Nunca as atividades do foro pessoal ou profissional do dr. Mário Costa foram tema de conversas entre o ex-presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga e qualquer elemento da Liga Portugal".
Já a SABSEG, patrocinadora oficial da Liga Portugal, desvalorizou o uso do seu nome pela Bsports e negou ter patrocinado a academia de Mário Costa: "A relação que a SABSEG tem com esta entidade é igual a tantas outras que mantém com os demais clientes e instituições, no âmbito da atividade de distribuição de seguros. A SABSEG tem conhecimento que a Bsports usava o nome SABSEG sem que, no entanto, existisse qualquer contrapartida financeira. A SABSEG condena veementemente eventuais atividades ilícitas que estejam a ser objeto de investigação judicial", reagiu, ao JN, fonte da empresa.
Este processo levou Mário Costa a renunciar à AG da LPFP, depois de ser constituído arguido, na investigação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) a suspeitas de tráfico de seres humanos.
Em consequência, também já foram resgatados 114 jovens pelo SEF, que serão entregues às famílias, muitas delas oriundas de países da América do Sul. O SEF não prestou mais informações, alegando que "o processo se encontra em segredo de justiça".