Juiz negou a solicitador proteção policial contra taxista que tentou matar bombeiros e GNR
O Tribunal de Loures rejeitou um pedido de proteção policial apresentado pelo agente de execução nomeado pela Justiça para avaliar e vender uma propriedade situada na freguesia de Canas de Senhorim, concelho de Nelas. O juiz acreditou que o executado era pessoa pacífica, mas, em fevereiro deste ano, quando o solicitador se dirigiu ao imóvel, foi recebido a tiro e deparou-se com um incêndio e várias explosões.
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O solicitador e agente de execução saiu ileso do incidente, mas um militar da GNR, três bombeiros e uma popular ficaram feridos, nalguns casos com gravidade. Razão por que o suspeito, de 63 anos, foi agora acusado, entre outros crimes, de cinco homicídios tentados.
Alertas para o perigo
José Carlos Guerra e a mulher haviam-se divorciado, em Lisboa, e tinham um processo de partilhas a correr em tribunal. O solicitador Tiago Lésico Fernandes fora avisado "pelo advogado da ex-mulher do arguido" de que este era "uma pessoa violenta e, por isso, não iria facilitar" a avaliação e a venda de uma antiga serralharia situada no lugar de Vale de Madeiros, para onde o homem regressara após o divórcio.
Aquele aviso foi feito em dezembro de 2018 e, após uma visita frustrada ao imóvel, no mesmo mês, o solicitador voltou a ouvir, de vizinhos, que Guerra "era uma pessoa violenta, conflituosa e perigosa". Perante os avisos, Lésico Fernandes dirigiu um requerimento ao Tribunal de Loures, em março de 2019, "a solicitar autorização judicial para o arrombamento das portas do imóvel e a intervenção da força pública de segurança".
"Falei com várias pessoas na aldeia que me relataram que José Carlos Ribeiro Guerra é uma pessoa de feitio difícil, conflituoso e até violento. É expectável que se venha a opor à tomada de posse do imóvel, afigurando-se que seja necessária a presença das forças policiais de modo a que seja mantida a ordem pública durante a diligência", argumentou.
Mas o pedido foi indeferido por um juiz de Loures, que foi mais sensível à tese da defesa do taxista, que garantia que este era "uma pessoa pacífica".
Sem apoio de forças de segurança, o solicitador notificou José Carlos Guerra de que visitaria a propriedade, na tarde do 13 de fevereiro de 2022, para fotografar e avaliar a mesma.
Quando ali chegou, foi recebido com dois tiros, de ameaça. Depois, o taxista ateou o fogo e provocou explosões, para impedir que o imóvel fosse vendido e a mulher recebesse qualquer valor da venda. Três dos bombeiros que foram ao local para apagar as chamas foram baleados, tal como um militar da GNR e uma popular. Um daqueles bombeiros esteve um mês em coma.
Arguido acusado de 12 crimes
José Carlos Guerra, que está preso preventivamente, foi acusado, pelo Ministério Público, de 12 crimes: quatro de homicídio qualificado agravados na forma tentada; um de homicídio simples agravado na forma tentada; quatro de coação agravados; um de incêndios, explosões e outras condutas especialmente perigosas; um de detenção de arma proibida; e outro de resistência e coação sobre funcionário.