Arguido que já cumpriu pena por matar três familiares responde agora por mais dois homicídios.
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Começou na quinta-feira nas Varas Criminais do Porto o julgamento de Rui Mesquita Amorim, cadastrado que responde pelo assassínio de dois homens a cujos corpos terá dado sumiço. Uma das vítimas foi "Trico", líder do gangue de Valbom que, em liberdade condicional, se encontrou com Amorim, que conhecera na cadeia. O motivo seriam 600 mil euros de dívidas de droga. Amorim, que em 1995 matou três familiares, em Viana do Castelo, ouviu ontem, imperturbável, o pormenorizado relato das circunstâncias que o apontam como autor de mais dois assassinatos. Depois de dizer ao tribunal que optava pelo silêncio, sentou-se para ouvir o inspetor-chefe da PJ António Pinto falar sobre os indícios recolhidos em quase dois anos de investigação.
"Trico", aliás Fernando Borges, líder do gangue de Valbom, conheceu Amorim nas celas do presídio de Coimbra, onde teriam um negócio de droga. Libertado condicionalmente em 2017, "Trico" passaria a fornecer Amorim, que, desde a cadeia, fizera crescer o negócio ilícito para as ruas. Mas um "fornecimento" de cocaína que seria intercetado pelas autoridades terá estragado a amizade. Amorim culpava "Trico" pelo negócio gorado e reclamava-lhe 600 mil euros.
A 1 de julho de 2018, "Trico" aceitou encontrar-se com Rui Amorim, que obtivera uma saída precária. Sob pretexto de venda de 900 gramas de heroína, o homem de Valbom deixou a mulher em casa com um "até logo" e rumou a Viana. Foi a sua última viagem. Daí para cá nunca mais deu sinal de vida. O seu automóvel apareceria na manhã seguinte, numa rotunda da Póvoa de Varzim. Tinha as portas abertas, chaves e os documentos e telemóvel de "Trico", mas, sobretudo, sinais de luta no interior.
Confrontado, ainda nessa madrugada, pela mulher do desaparecido, Amorim disse que ele não aparecera, corrigindo a seguir que tinha "ido embora", quando intervieram na "conversa" alguns amigos de "Trico", que acompanharam a mulher a Viana em busca do desaparecido. Amorim acabaria por ser agredido, sofrendo ferimentos que lhe serviram para se queixar à PSP de um suposto rapto de que conseguira escapar.
Nos dias seguintes, a mulher de "Trico" recebeu dois telefonemas do mesmo homem, "de pronúncia estranha", que reclamava 115 mil euros para devolver a liberdade a "Trico". A PJ está convencida que a voz pertencia a Eduardo Costa, a segunda vítima. Era um homem com deficiência que se refletia na voz e reconhecidamente sob o domínio de Amorim. A sua participação (os telefonemas) fazia dele um cúmplice incómodo. Por isso, terá sido definitivamente calado. O julgamento continua no dia 3.
Já foi condenado a um total de 43 anos de prisão
Rui Mesquita Amorim, de 50 anos, foi condenado a 20 anos de cadeia, em 1995, por ter matado dois tios e um primo. Em 2002, fugiu da cadeia. A evasão durou quatro meses, o suficiente para cometer três crimes de rapto e um de extorsão, que lhe custaram uma pena de 11 anos. Em 2019, foi julgado por tráfico de droga (dentro e fora da cadeia), apanhando mais 12 anos. Tudo somado, 43 anos.