Três dos 17 idosos da Casa do Médico foram isolados em antiga escola. Famílias, autarquias e Segurança Social desconheciam ilegalidade.
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Durante, pelo menos, quatro anos, cerca de 20 idosos viveram num espaço anunciado, em sites de entidades como a Câmara de Paredes ou a Rota do Românico, como sendo uma unidade de turismo rural da freguesia de Aguiar de Sousa. Até ao início deste ano, também frequentaram um centro de dia. Mas ninguém percebeu que aqueles estavam num lar ilegal. Só na semana passada, quando três dos atuais 17 utentes acusaram positivo à covid-19 e foram retirados da Casa do Médico - Lar Santa Isabel é que se descobriu a verdade.
"Fomos surpreendidos com uma mensagem de telemóvel da responsável a dizer que o lar, por imposição da Segurança Social, ia fechar e que tínhamos de ir buscar a minha sogra. Ela está lá há quatro anos por indicação do centro de dia que frequentava. Pensávamos que era legal e até incluímos os recibos das mensalidades nas despesas do IRS", revela o familiar de uma dos três utentes que, infetados com coronavírus, foram retirados do espaço. "De acordo com decisão da Autoridade de Saúde Pública, foram isolados os utentes positivos na antiga escola primária, solução encontrada pela Comissão Municipal de Proteção Civil de Paredes", descreve o Instituto da Segurança Social.
Ninguém sabia
O mesmo organismo, que ativou uma Brigada de Intervenção Rápida para reforçar os recursos humanos necessários ao acompanhamento dos casos positivos, confirma que a "Casa do Médico - Lar Santa Isabel é uma estrutura ilegal que acolhe 17 utentes". Também a Câmara de Paredes assegura que o equipamento "está instalado num edifício que não tem licença de utilização para lar". E acrescenta, apesar de o site da Autarquia promover o espaço como unidade de turismo rural, que o local só dispõe de licença para habitação.
Porém, Camilo Mota, o dono da pequena quinta, assegura que a propriedade de família "foi transformada em turismo de habitação" e possuía alvará. "Fui eu que licenciei o projeto na Câmara de Paredes", afirma. O médico nega, contudo, qualquer responsabilidade no lar. "Só sou proprietário da casa e a pessoa que é arrendatária é que a explora. Não tenho nada a ver com o que se passa lá", diz. O centro de dia onde os idosos conviviam até ao início da pandemia alega, igualmente, desconhecimento. "O familiar pedia a integração no centro de dia e para deixar o utente naquela morada. Prestámos esse serviço como o fazemos a qualquer outra pessoa", frisa a diretora técnica Diana Costa.
O JN tentou contactar a responsável pela Casa do Médico, mas, por esta estar em quarentena, não foi possível estabelecer qualquer contacto.
Pormenores
Escola isolada
O presidente da Junta de Aguiar de Sousa, Fernando Santos, garante que a antiga escola onde os idosos infetados foram colocados "é um sítio isolado e que cumpre condições impostas pela Segurança Social". "Tem casas de banho e aquecimento", destaca.
Autarca nega
O autarca declara que as "três pessoas, na casa dos 80 anos", que foram infetadas "estavam bem". E nega que tivesse conhecimento da existência do lar ilegal.
Permanecem no lar
A Segurança Social avança que "foi decidida a manutenção dos idosos na instituição, por se encontrarem garantidas as condições necessárias para a monitorização e cuidados necessários aos utentes".