Completaram-se dois meses de mistério à volta do desaparecimento de "Trico", o líder do famigerado gangue de Valbom, que saiu de casa na manhã de 1 de julho, para ir a Viana, onde tinha encontro marcado com um condenado por homicídio que conhecera na cadeia de Coimbra. Desaparecimento voluntário, rapto ou homicídio, os indícios permitem qualquer hipótese. A PJ está a tentar esclarecer o intrincado sumiço, ligado ao grande banditismo.
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Fernando Borges "Trico" foi o líder do gangue de Valbom, que em 2006 e 2007 perpetrou dezenas de assaltos a ourivesarias e farmácias, entre outros crimes violentos, provocando enorme alarme social no Norte e Centro do país.
"Trico", posto em liberdade depois de cumprir metade dos 14 anos a que foi condenado em 2010, saiu de casa na manhã de domingo, 1 de julho. Despediu-se da mulher com um "até logo", depois de lhe dizer que ia visitar Rui Amorim, um condenado a 24 anos por duplo homicídio. Trico tinha estado preso na cadeia de Coimbra com Amorim, que viera à terra natal, próxima de Viana, para visitar a mãe, no gozo de uma saída precária.
Chamadas não atendidas
Trico partiu num "Mini" emprestado por um amigo. O dia passou sem que telefonasse à companheira, facto que ela achou "estranho". A estranheza tornou-se em angústia quando lhe ligou repetidamente sem que ele atendesse.
Ao final da noite, a mulher partiu para Viana, na companhia de amigos, à sua procura. Foi na peugada do Rui Amorim. Encontrou-o num centro comercial de Viana, na companhia de um homem que, há uns anos, teria estado ligado ao mundo do tráfico de droga ibérico.
A chegada da "comitiva" de Valbom fez com que o homem se afastasse momentaneamente, deixando Amorim com os recém-chegados. Questionado, o cadastrado começou por negar qualquer encontro com "Trico", mas, após insistência mais "musculada", acabaria por confessar terem estado juntos. Mas garantiu que "Trico" tinha partido pouco depois, sem lhe contar o destino. A versão não convenceu a mulher, nem os seus amigos que, no entanto, partiram sem mais.
A meio da manhã seguinte, Amorim foi visto a correr, ensanguentado e a gritar por socorro, numa movimentada rua de Viana. Parou junto a um agente da PSP, a quem pediu "proteção". Estava "com a cara feita num bolo" e gritou que tinha sido raptado em casa, agredido e metido à força num carro de que tinha conseguido escapulir-se momentos antes. Foi conduzido ao hospital, antes de regressar à cadeia. Interrogado pela PJ, contou a mesma versão, apontando "gente conhecida", mas sem revelar nomes. Sobre o "Trico", não sabia "de nada". A história não convenceu a PJ.
Carro com sangue
Nessa manhã, amigos de "Trico", que andaram toda a noite à sua procura, descobriam o "Mini", abandonado e com portas abertas, em Vila do Conde. No interior, os sinais reforçavam o mau agoiro: patadas "por todo o lado, sangue e cabelos", deixavam perceber que "Trico" fora dali arrancado à força. E são, até hoje, os seus últimos sinais de vida.