Empresa de "marketing" que recebeu 1,3 milhões de euros do SLB foi criada dois meses depois de assinar contrato.
Corpo do artigo
Luís Filipe Vieira, que pode ver-se livre da prisão domiciliária com a prestação de caução de três milhões de euros, no âmbito da Operação Cartão Vermelho, está a braços com outra investigação em que também é suspeito de crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Em causa estão alegadas prestações de serviços fictícios, envolvendo uma empresa de informática e outra de "marketing", que receberam, respetivamente, 1,8 e 1,3 milhões de euros dos cofres do Benfica. A investigação, conhecida como o caso do "saco azul", é conduzida pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa e estará prestes a ser concluída pela Polícia Judiciária e Autoridade Tributária (AT).
Tal como na Operação Cartão Vermelho, em que Vieira está indiciado por desvios de 2,5 milhões de euros ao Benfica - através de um esquema de comissões fictícias em cumplicidade com o agente Bruno Macedo -, no "saco azul", o autossuspenso líder encarnado também é suspeito de lesar os cofres da SAD.
13928366
Em 2016, a Administração do Benfica assinou com a empresa Hightower Unipessoal um contrato de prestação de serviço de 1,3 milhões. O objetivo seria a promoção da imagem do Benfica em Angola e outros países africanos. O problema é que a empresa terá sido criada dois meses depois do contrato ter sido firmado. Este facto foi denunciado por documentos tornados públicos através da divulgação massiva de e-mails do Benfica por parte de Rui Pinto, o "hacker" que está a ser julgado em Lisboa.
Mais, aquela empresa está sediada na zona franca da Madeira e, segundo a consulta de documentos oficiais, os seus gerentes também figuram como administradores de outras firmas (sem qualquer ligação com "marketing"), sediadas na mesma ilha, embora apresentem moradas no continente.
Numa recente ação cível que visa destituir Vieira da presidência do SLB, o advogado Jorge Mattamouros já afirmava que, numa apresentação de contas interna, a despesa com a Hightower foi referida como reportando-se a "aumento dos vencimentos dos plantéis de futebol profissional e dos trabalhos especializados".
Posteriormente, num relatório de contas, a SAD retirou a referência à empresa, atribuindo a despesa a gastos com consultores em diferentes áreas.
Em relação às suspeitas sobre os alegados serviços informáticos fictícios, o Ministério Público já tinha vindo dizer que existiam suspeitas de fraude com "várias transferências bancárias para uma conta titulada por uma outra sociedade, num valor total de 1,8 milhões, montantes esses que acabavam depois por ser levantados em numerário". O caso mereceu a realização de buscas no Estádio da Luz, em junho de 2018, noticiadas em primeira mão pelo JN.
Neste processo, Luís Filipe Vieira, Domingos Soares de Oliveira, a Benfica SAD e Benfica Estádio foram constituídos arguidos, assim como três outras pessoas.
O JN sabe que esta investigação já está numa fase adiantada.
Perguntas e Respostas
Luís Filipe Vieira pode voltar à presidência do Benfica?
Pode. As medidas de coação decretadas pelo juiz Carlos Alexandre nada dizem sobre a suspensão de funções que o próprio Vieira solicitou. Nem foi proibido de contactar com funcionários ou de entrar na Luz. Só não pode é contactar com outros administradores.
Já houve casos de arguidos a exercer funções, com proibição de contactos?
Já. O presidente da Câmara de Barcelos governou a Câmara, em 2019, apesar de estar em prisão domiciliária com pulseira eletrónica e de estar proibido de contactar com funcionários da Autarquia. Medidas de coação também decretadas por Carlos Alexandre, na Operação Teia.
As medidas de coação de Vieira podem ser revistas?
Sim. São revistas, por lei, de três em três meses, mas Carlos Alexandre pode, a qualquer momento, reavaliá-las, se entender que surgiu um novo elemento que o justifique. O Ministério Público também pode solicitar a reapreciação dos pressupostos que levaram à prisão domiciliária e à exigência de uma caução.