Luís Neves: “Fake news interessam aos profetas da desgraça e criadores do caos"
O diretor nacional da PJ afirmou esta quarta-feira na Assembleia da República que é necessário minimizar as perceções de insegurança e lembrou que não há nenhum estudo validado nessa matéria. Luís Neves referiu o perigo das “fake news” e desinformação que “interessam aos profetas da desgraça e criadores do caos”.
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“Infelizmente, continuamos com muitos homicídios e muitos crimes de violência doméstica no país, em que 90% são cometidos por cidadãos nacionais. É uma vergonha para todos nós”, lamentou Luís Neves. O líder da PJ alertou para o crescimento do tráfico de droga e para o aparecimento de organizações criminosas da América Latina. “Estamos encharcados de toneladas e toneladas” de cocaína e haxixe. Em breve virá o fentanil, uma droga sintética produzido por organizações criminosas mexicanas a partir de percursores da China, antecipou.
A depor na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, Luís Neves recordou que, a partir de 2007, 2008, houve uma inversão do aumento do crime. Entretanto, “começaram a ser libertados muitos dos delinquentes que prendemos e há um pico de criminalidade informática”. Dois fatores que estão a influenciar as estatísticas mais recentes.
Aumento muito grande nos crimes de ódio
O diretor da PJ também alertou para um aumento muito grande nos crimes de ódio e na manipulação da informação. “Temos muitas fake news, muita desinformação, muito racismo, que são as bases do crime de ódio”, afirmou, salientando que “o que se fala não corresponde à verdade” mas “interessa aos profetas da desgraça e da criação do caos”.
Apesar de não haver qualquer estudo científico validado sobre as perceções de insegurança, disse que “temos de as respeitar” e “estamos preocupados em mitigar as preocupações” e “perceções". “As pessoas têm de ser livres, não têm que ter receio. As famílias não podem estar preocupadas quando os filhos saem à noite”, afirmou. “Temos que lutar para que não venha o caos, a desinformação e segmentar o caos”, apelou.
PJ sabe nacionalidades mas não partilha porque não pode
O responsável máximo da PJ fora chamado à comissão por causa de uma polémica com o número de estrangeiros presos em Portugal. Luís Neves frisou que as sua declarações foram mal citadas o que gerou confusão. “A PJ conhece a nacionalidade de todos os detidos, mas não os partilha porque não é permitido partilhar”, garantiu.
Ainda sobre o número de estrangeiros de outros países presos, Luís Neves revelou que a maior parte deles são presos preventivos. “Naturalmente, os tribunais portugueses, tendencialmente, prendem preventivamente mais um estrangeiro pelo perigo de fuga”, contextualizou, frisando que os cidadãos do subcontinente indiano “não têm maior preponderância criminal, antes pelo contrário”.
Luís Neves frisou ainda que uma coisa é um estrangeiro e outra é um imigrante. “Se forem bem inseridos e tiverem um documento rápido, tendencialmente os imigrantes não vão cometer crimes. O que procuram no mais mais curto espaço de tempo é um documento que lhes permita fugir das garras dos traficantes e do patronato que os utiliza”, explicou.
Manifestação de interesse nunca agradou à PJ
O diretor nacional da PJ confessou que, apesar da desejável rapidez na legalização de imigrantes, sempre teve resistências em relação à manifestação de interesse. “Entendemos que devemos trazer as pessoas já sabendo quem são, onde podem ficar e já com contratos de trabalho”, explicou. Sobre o assumir das competências do extinto SEF, Luís Neves referiu que herdaram centenas de investigações. “Tivemos dificuldades numa primeira fase, estamos agora a organizar-nos e tem corrido bem”.
Sobre as dificuldades operacionais, Luís Neves recordou que enquanto os orçamentos de PSP e GNR, do Ministério da Administração Interna, aumentaram, o da PJ, do Ministério da Justiça, veio "sempre em declínio". E que estamos a pagar com a corrupção esse desinvestimento estrutural que foi feito na PJ. Um cenário que se começa a inverter. "Estamos numa fase de recrutamento e investimento".