PJ deteve dois guardas prisionais, um PSP e mais nove pessoas que geriam laboratório de anabolizantes.
Corpo do artigo
Era um serviço semelhante ao “Uber”, que permitia aos reclusos de pelo menos sete cadeias receber nas celas telemóveis, droga e anabolizantes produzidos num laboratório clandestino que funcionava num apartamento no centro de Lisboa. Mas o esquema, em que os guardas prisionais recebiam 500 euros por cada serviço de estafeta nas prisões, foi ontem desmantelado pela Polícia Judiciária, que deteve 13 pessoas. Dois guardas, um agente da PSP, os gerentes do laboratório, intermediários e distribuidores vão hoje ser levados a tribunal. A Operação Mercado Negro também levou à constituição como arguidos de pelo menos seis elementos dos Serviços Prisionais.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o inquérito começou com informações sobre guardas que introduziam telemóveis e produtos estupefacientes em estabelecimentos prisionais (EP) de Lisboa, na sequência de uma reportagem emitida pela televisão SIC no ano passado.
Passando pelo “buraco da agulha” e procurando horas mais calmas no EP, os guardas evitavam sujeitar-se aos dispositivos de segurança para fazer chegar as encomendas diretamente nas celas. Suspeita-se também que facilitavam nas revistas de visitantes que levavam droga a reclusos.
A investigação da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ chegou ainda aos elementos da rede que entregavam anabolizantes aos guardas. Os inspetores descobriram que os produtos eram fabricados de modo artesanal num discreto apartamento do centro de Lisboa.
Importavam produtos
No apartamento da capital, foram apreendidos centenas de produtos anabolizantes, mas também precursores que, segundo apurou o JN, eram importados pela rede e ali misturados na produção de substâncias a levar para as cadeias. Além do laboratório clandestino, a rede tinha um armazém e um escritório que servia de entreposto de anabolizantes, antes da sua distribuição.
Ao aprofundar a investigação sobre os distribuidores, percebeu-se que havia mais guardas prisionais a cometer os mesmos crimes que os dois primeiros suspeitos. O esquema estava centrado no EP de Lisboa e na cadeia anexa à PJ, mas esta verificou que a corrupção se estendia a outras prisões.
O maior problema, apontam fontes ligadas ao sistema prisional, verificava-se na cadeia anexa à PJ, onde o ambiente era “tenso” há vários anos. Há cerca de um ano foi, inclusive, formada uma “task force” com chefes e guardas de outros estabelecimentos prisionais para tentar resolver as lacunas de segurança ali diagnosticadas. A chegada de novos elementos da Guarda Prisional levou alguns colegas a entrarem de baixa médica, por temerem ser envolvidos no esquema de corrupção.
Antes disto, e também na cadeia anexa à PJ, um recluso chegou a apresentar um talão que provava a transferência de 200 euros para a conta de um guarda prisional. O dinheiro seria para pagar um telemóvel e o guarda foi transferido da cadeia anexa à PJ para o Hospital-Prisão de Caxias, onde foi detido ontem. O segundo detido continuava ao serviço na cadeia anexa à PJ.
As buscas nas cadeias visaram as celas de reclusos e os cacifos dos guardas prisionais suspeitos. Na prisão da Carregueira, o único alvo foi, aliás, o armário de serviço de um guarda que, há cerca de três anos, tinha sido denunciado pelos colegas, por introduzir telemóveis na cadeia, aos dirigentes do estabelecimento prisional.
Em causa estão suspeitas da prática dos crimes de corrupção, tráfico de droga e de substâncias e métodos proibidos, falsificação de documentos e branqueamento.