Mãe a quem foram retiradas filhas garante que nunca disse que ia fugir com as crianças
Mãe que ficou sem a guarda de três filhas em 2015 após alegada mentira de assistentes sociais garante que nunca ameaçou "desaparecer" com as meninas. Técnicas começaram esta quarta-feira a ser julgadas.
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A mãe que, em 2015, ficou sem a guarda de três filhas depois de duas técnicas da Segurança Social terem indicado ao tribunal que a mulher ameaçara "desaparecer" com as meninas insistiu esta quarta-feira, em tribunal, que "nunca" pensou "fugir" com as crianças. As duas mais novas foram entregues ao pai já então suspeito de violência doméstica, e entretanto condenado a pena suspensa por aquele crime.
"O que eu disse é que o pai podia fugir com as meninas. Eu nunca me referi a fugir com as minhas filhas", assegurou Ana Maximiano, de 40 anos, ao depor no primeiro dia do julgamento das duas assistentes sociais em causa, no Tribunal Local Criminal de Cascais.
Anabela Moura Vieira e Sandra Baptista, ambas de 50 anos, respondem por falsidade de depoimento ou declaração e denegação de justiça ou prevaricações, puníveis com multa ou prisão. A primeira optou por, para já, não prestar as declarações, enquanto a segunda admitiu que a informação foi prestada com base no que lhe foi relatado pelo técnico de serviço social do infantário de duas das crianças.
O caso remonta a 7 de dezembro de 2015, dia em que o pai das duas meninas mais novas deveria ter recolhido as filhas, num infantário no concelho de Oeiras, para passar umas horas com elas. O encontro, mediado por assistentes sociais, deveria ter acontecido pelas 9 horas, mas Ana Maximiano deixou as duas crianças mais velhas na escola pelas 10 horas, de modo, como admitiu esta quarta-feira em tribunal, a evitar a entrega.
Em seguida, foi ao café com a filha mais nova, então com dois anos. Terá sido nessa altura que o dispositivo de segurança que alertava para a presença do ex-companheiro "começou a tocar".
"Percebi que o pai estava a ir buscar a menina à escola", contou no julgamento, acrescentando que, uma semana antes do episódio, o homem fizera um requerimento no processo de violência doméstica para sair temporariamente de Portugal.
Terá então deixado a criança mais nova com uma conhecida, dirigindo-se ao estabelecimento de ensino. Pelo caminho, terá acionado o botão de pânico e chamado a PSP.
Retiradas no próprio dia
Foi nessa altura que se cruzou com o técnico de serviço social do infantário, que, face à recusa da mãe em entregar as filhas, ligou a Sandra Baptista. De acordo com a assistente social, ter-lhe-á relatado que Ana Maximiano estava descontrolada e a dizer que o pai não voltaria a ver as meninas. Terá, ainda, dado a entender que progenitora tinha deixado a bebé sozinha no café.
Nesse mesmo dia, as três crianças foram, por decisão do Tribunal de Família e Menores de Cascais e com base na informação prestada pelas arguidas, retiradas à mãe e entregues aos respetivos pais, por estarem em perigo sob a guarda da progenitora.
"Um técnico de serviço social não diria essas coisas se não sido ultrapassado um limite. [...] Achei claramente que estávamos perante uma situação que podia correr muito mal", sublinhou esta quarta-feira, no julgamento, Sandra Baptista. À data, não falou com qualquer uma das outras pessoas que presenciaram o episódio.
O julgamento prossegue na próxima quarta-feira, 21 de setembro de 2022, com a continuação do depoimento de Ana Maximiano, que em 2016 fez greve de fome para denunciar o caso, e a inquirição da primeira testemunha. As três meninas regressaram, entretanto, a casa da mãe: a mais velha, em 2019, e as restantes em dezembro de 2021.