Os dois bebés encontrados mortos num apartamento em Cascais não tinham marcas externas, nem sinais de violência. Só os resultados da autópsia poderão determinar se os gémeos nasceram sem vida ou foram mortos pós-parto pela mãe que deu à luz sozinha e com outro filho menor presente.
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Apesar de o exame externo não permitir uma leitura taxativa sobre o que aconteceu, face aos indícios encontrados, existe a forte convicção, na investigação, de que os bebés foram mortos já após terem nascido.
Quando as autoridades chegaram ao local, no início da tarde de sábado, além da mãe e dos cadáveres dos recém-nascidos, encontraram uma outra criança, filho da mulher, de nacionalidade brasileira. Ao que tudo indica, o menor terá estado presente enquanto tudo se desenrolou. A mulher tem um segundo filho, mais velho, mas que não reside consigo.
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Os primeiros indícios apontam para que os bebés tenham nascido na madrugada ou início da manhã de sábado. Porém, o alerta só viria a ser dado já depois do meio-dia, por vizinhos que ouviram barulhos provenientes de agitação no prédio. Quando a ambulância do INEM chegou ao local, os profissionais médicos constataram que a mulher estava em situação débil, após ter perdido muito sangue. Foi de imediato levada de urgência para o Hospital de Cascais.
Indícios de crime
Apesar de não ser ainda certa qual a causa da morte dos recém-nascidos, a convicção das autoridades é de que terá havido crime. Existem evidências que apontam para a forte probabilidade de a mãe ter a intenção de matar e de se desfazer das crianças.
Desde logo, a mulher escondeu a gravidez de toda a gente e nunca terá ido a uma consulta de obstetrícia ou sequer sido observada por um médico. Por outro lado, o cadáver de um dos recém-nascidos foi encontrado já no interior de um saco de plástico. O cadáver do outro estava enrolado numa toalha, noutra divisão do apartamento, localizado na Avenida de Sintra, em Cascais.
A mãe terá dado à luz sozinha, sem qualquer auxílio e terá sido a própria a retirar a placenta e a arrancar o cordão umbilical, o que gerou uma hemorragia. Quando foi encontrada pelas autoridades já tinha perdido uma quantidade substancial de sangue. Continua hospitalizada, mas fora de perigo.
Não se sabe quem é o pai
Ao que o JN apurou, a mulher, uma prestadora de serviços de nacionalidade brasileira, encontra-se já há alguns anos a residir e a trabalhar em Portugal. Até ao momento não é conhecida a identidade do pai dos recém-nascidos.
Segundo vizinhos ouvidos pelo JN, no apartamento onde foram encontrados os bebés mortos, "viviam várias pessoas brasileiras, algumas de meia-idade, há pouco mais de um mês". Porém, não souberam acrescentar mais pormenores sobre os residentes. O prédio é habitado por imigrantes de várias nacionalidades e há uma grande rotatividade, pelo que "é difícil conhecê-los", explicaram.
Pormenores
INEM assistiu mãe por perda de sangue - Os Bombeiros de Cascais receberam o alerta às 12.04 horas de sábado. A mãe tinha perdido muito sangue e teve de ser levada de urgência para o Hospital de Cascais, onde continuava internada ontem à noite.
Pena até 25 anos caso seja homicídio - Caso se comprove que houve crime de homicídio qualificado, a mãe dos bebés pode ser condenada à pena máxima prevista na lei portuguesa: 25 anos de prisão.
Outros casos
Gémeas mataram bebé - Rafaela Cupertino, 25 anos, já tinha dois filhos e não queria um terceiro. A 9 de abril de 2018, quando a menina nasceu, pediu ajuda à irmã gémea, Inês, para a matar. Primeiro, tentaram afogá-la na banheira de casa, no Seixal. Depois, Rafaela deu-lhe três facadas no peito. Complicações pós-parto obrigaram à chamada das autoridade que descobriram o crime. Rafaela foi condenada a 18 anos e três meses e Inês a 15 anos e três meses.
Sobreviveu no lixo - Em 2019, uma sem-abrigo de 21 anos deu à luz numa tenda, junto a Santa Apolónia, em Lisboa. Sara Furtado pegou no bebé, colocou-o num ecoponto e foi-se embora. O recém-nascido viria a ser encontrado por outro sem-abrigo e sobreviveu. A mãe foi detida e condenada a nove anos de prisão. A pena seria reduzida para um ano e 10 meses.
Asfixiou gémeas - Isabela Natacha, 27 anos, não disse a ninguém que estava grávida. Em janeiro de 2020, deu à luz duas meninas em casa, em Espinho. Asfixiou as duas. Os corpos dos bebés foram descobertos na bagageira do carro pelo pai de Isabela, que alertou a PSP. Isabela viria a ser condenada a 13 anos de cadeia.