Duas empresas registadas na ilha venderam máquinas agrícolas utilizadas em burla com fundos da União Europeia.
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A Società Foggiana, uma das mais brutais e violentas máfias italianas, usou duas empresas com sede na ilha da Madeira para "lavar" mais de 16 milhões de euros. Este montante foi conseguido através de um esquema ardiloso que lhe permitiu burlar a União Europeia, com base em fundos comunitários de apoio ao desenvolvimento rural.
Em Portugal, a investigação esteve a cargo da Inspeção-Geral de Finanças, mas foram as autoridades italianas que, esta semana, detiveram 48 pessoas ligadas à máfia radicada na cidade de Foggia. Algumas são peças importantes da organização criminosa, mas entre os detidos encontram-se também advogados, agricultores, um ex-presidente de Câmara e funcionários de instituições públicas responsáveis pela fiscalização dos projetos financiados por dinheiro europeu. Sobre eles recaem crimes como associação criminosa do tipo mafioso, branqueamento de capitais, fraude, mas ainda extorsão, rapto e posse ilegal de armas de fogo e explosivos
O Organismo Europeu de Luta Antifraude (OLAF), que coordenou a operação "Grande Carro", classifica de "complexo esquema internacional para lavagem de dinheiro obtido com fundos comunitários" o que se passou entre 2013 e 2018. E explica que esta máfia italiana comprava máquinas agrícolas através de empresas fictícias sediadas em países como a Bulgária, República Checa, Alemanha, Irlanda ou Roménia para depois simular uma venda a companhias como as duas que estavam registadas na Madeira. Daqui, a maquinaria era revendida a empresas italianas a um preço muito inflacionado, permitindo que estas recebessem avultados fundos europeus com base nas faturas apresentadas. Nalguns casos, as máquinas agrícolas usadas na burla eram em segunda mão, mas dadas como novas.
Compra de alimentos
Ao JN, o OLAF refere que as "duas empresas registadas na Madeira e com ligações ao grupo criminoso foram utilizadas como veículos intermediários no esquema de compra e revenda de maquinaria". Diz ainda que, juntamente com outras sediadas em Itália e na Irlanda, as empresas madeirenses "também faziam parte do esquema de quatro etapas" que incluía a compra e venda fictícia de produtos alimentares.
Ou seja, os alimentos eram comprados e vendidos, de forma simulada, entre as empresas controladas pela máfia, de maneira a que o lucro obtido com as faturas falsas fosse branqueado.