A Polícia Judiciária desmantelou duas grandes plantações em Gaia e na Feira. Rede criminosa enviou centenas de pacotes com 10 quilos de droga para a Europa Central.
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A Polícia Judiciária (PJ) apreendeu uma tonelada e meia de canábis e deteve dois homens e uma mulher, todos de nacionalidade chinesa, suspeitos de explorar duas superestufas da planta em Santa Maria da Feira e Gaia. A organização asiática será também responsável pela plantação industrial desmantelada em julho na Maia. O grupo aproveitava-se das "condições únicas de Portugal" para cultivar canábis que depois enviava para a Europa Central, em encomendas postais.
"É uma estrutura de produção industrial sem paralelo na Europa", descreveu esta segunda-feira Avelino Lima, coordenador de investigação criminal da Diretoria do Norte da PJ. "Este ano tem sido anómalo. O normal são pequenas produções. Neste caso, estamos a falar de um grande armazém com nove estufas autonomizadas", frisou.
Para explicar esta escalada no volume de produção, o responsável destacou as atrativas "condições climatéricas únicas" do nosso país, que privilegiam este tipo de plantação e que atraem "até as empresas que se dedicam legalmente a este tipo de plantação". "Por outro lado, estamos muito próximos do Centro da Europa, onde se situa o maior mercado de consumo ilícito, que é extremamente rentável", acrescenta. "Não é por acaso que Portugal está a surgir neste momento como produtor de grande escala", avançou o responsável.
Tudo começou há cerca de dois meses com a apreensão de uma encomenda de canábis com destino à Alemanha. Um suspeito foi detido e, na sequência dessa apreensão, foram identificados dois locais de produção.
O primeiro, em Santa Maria da Feira, foi logo abandonado pela organização após a detenção do primeiro suspeito. Porém, além de grande quantidade de droga, deixaram para trás indícios que possibilitaram a localização de outro espaço, em Vila Nova de Gaia, onde a produção já estava a todo o vapor.
Novas estufas com 5300 plantas
Na passada semana, a PJ efetuou uma busca ao armazém gaiense onde apreendeu cerca de 5300 pés de canábis, em diferentes estados de crescimento, divididos por "nove estufas autonomizadas com sistemas de aquecimento, extração de ar e ventilação, num processo altamente sofisticado de produção e acondicionamento em vácuo, para posterior exportação de liamba". Foram detidos um homem com 47 anos, residente em Portugal há 20, e uma mulher, de 42 anos, legalizada em Espanha.
Segundo a PJ, os suspeitos colhiam as plantas, processavam-nas, embalavam a droga em vácuo e depois enviavam-na em pacotes de oito a dez quilos, através de empresas de transporte, para cinco países da Europa Central: França, Alemanha, Holanda, Inglaterra e Bélgica. Os recetores eram todos cidadãos chineses.
"Temos centenas de exportações registadas. O trabalho vai agora prosseguir nos países destinatários através da cooperação internacional e da Europol para identificar as células recetoras e redistribuidoras", adiantou Avelino Lima.
8634 plantas de canábis apreendidas nas três superestufas da Feira e Gaia (5300) e Maia (3334)
1500 quilos de canábis para vender depois de processadas as 5300 plantas apreendidas na Feira e em Gaia
6 investigações autónomas abertas só este ano pela PJ do Porto pela plantação de canábis por cidadãos chineses
Roubaram 3 milhões em luz para fazer crescer plantas
Em julho, a Divisão de Investigação Criminal da PSP desmantelou outra superestufa em Pedrouços, Maia. Foi apreendida cerca de uma tonelada de canábis e três chineses foram detidos. A antiga tinturaria tinha sistemas de rega, aquecimento e ventilação topo de gama, destacando-se 600 lâmpadas térmicas, 500 balastros elétricos e dez mil ventiladores e filtros de ar. Os aparelhos eram alimentados através de uma puxada ilegal, tendo causado um prejuízo de cerca de 3 milhões de euros à EDP.