Carlos Silla foi apanhado, em 2021, a pilotar veleiro carregado com quase 4,7 toneladas de cocaína, avaliadas em mais de 150 milhões de euros. Foi a maior apreensão do ano.
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O maior narcotraficante da Galiza, Espanha, começou a ser julgado na semana passada, em Lisboa. Carlos Silla, juntamente com outros dois comparsas, está acusado de pilotar um veleiro com quase 4,7 toneladas de cocaína, avaliadas em mais de 150 milhões de euros. A droga foi apreendida no ano passado, no âmbito de uma intensa cooperação internacional entre a Polícia Judiciária e as suas congéneres de Espanha, Reino Unido, Colômbia e Estados Unidos da América. A operação "Maré Branca" significou a maior apreensão de cocaína em Portugal dos últimos 15 anos e a maior de sempre em veleiros.
Carlos Silla passou os anos de 2020 e 2021 no mar, em viagens entre a América do Sul e a Europa. Ao serviço de um cartel colombiano, aproveitava as travessias marítimas para traficar grandes quantidades de cocaína da Colômbia e Venezuela para Portugal e Espanha.
No início do ano passado, o cartel, que usava quase sempre veleiros e iates para traficar a cocaína, passou a ser investigado e, já em agosto, o Centro de Análise e Operações Marítimas - Narcóticos, entidade dedicada ao combate ao tráfico de droga, composta por sete países, conhecida pela sigla MAOC-N e com sede em Lisboa, obteve uma informação de que nova viagem marítima iria ter lugar.
Nesta ocasião, sabia-se apenas que a droga seria transportada de veleiro e só as diligências policiais permitiram localizar, em outubro, a embarcação suspeita. A Força Aérea Portuguesa sinalizou e fotografou o barco, permitindo que, no dia 14 de outubro, uma patrulha da Marinha fosse ao encontro dos narcotraficantes.
Dois dias depois, a coberto da escuridão da noite e quando o veleiro estava a cerca de 300 milhas da costa portuguesa, os militares abordaram a embarcação e encontraram, de imediato, quase 4,7 toneladas de cocaína, distribuídas por 183 fardos colocados, à vista desarmada, ao longo dos 23 metros de comprimento do barco.
Apenas na manhã seguinte, com o veleiro já atracado no porto de Lisboa, é que as autoridades identificaram os três tripulantes como sendo Jorge Guerrero, peruano de 41 anos, Xavier Abad, espanhol de 29 anos, e, para surpresa de todos, Carlos Silla.
Aos 36 anos, Silla era visto como o mais importante narcotraficante da Galiza e estava a ser procurado pela Polícia espanhola desde 2020. Tal como os comparsas, ficou em prisão preventiva e, na primeira audiência do julgamento que se iniciou na semana passada, no Campus da Justiça de Lisboa, remeteu-se ao silêncio.
Cuidados extremos
Quando foi detido, Carlos Silla pilotava um veleiro com bandeira holandesa e com uma placa a ostentar o nome de "Monkey Bay". Era, contudo, tudo falso. O veleiro era, na verdade, espanhol e chamava-se G-Siro, mas Silla fez questão de ocultar estes elementos para a embarcação não ser identificada na altura de lançar os fardos de droga à água para serem recolhidos por lanchas rápidas e levados até a costa portuguesa ou galega.
O narcotraficante não deixava nada ao acaso. O veleiro estava, igualmente, equipado com vários aparelhos tecnológicos, incluindo um inibidor de frequência, que o mantinha invisível em alto mar. Todas as comunicações feitas para terra eram efetuadas através de satélite e com recurso a tabelas de códigos que tornavam a conversa impercetível para a Polícia.
PERFIL
Número 1 de uma nova geração de narcotraficantes
Os espanhóis garantem que Carlos Silla é "o número 1 de uma nova geração de narcotraficantes galegos". Natural de Villagarcía de Arosa e filho de um advogado com clientes ligados ao tráfico de droga, Silla começou por pilotar lanchas rápidas usadas para recolher fardos em alto mar, mas a ligação aos colombianos fê-lo subir rapidamente na hierarquia do cartel. Em março de 2020, quase que era apanhado pela Polícia quando pilotava, em Pontevedra, um veleiro carregado com quatro toneladas de cocaína. Fugiu e era procurado desde então.