Relatório Anual de Segurança Interna mostra que roubos na via pública aumentaram 15% nos distritos de Lisboa e Setúbal, mas também subiram agressões graves, roubos a edifícios e extorsões.
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Os distritos de Lisboa e Setúbal registam mais de metade de toda a criminalidade violenta e grave participada em Portugal, de acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2019, que deverá chegar à Assembleia da República até sexta-feira. No país, neste tipo de crimes, quebrou-se um ciclo de dez anos de descida neste tipo de crimes.
Apesar de representarem apenas 31% da população nacional (3,1 milhões, segundo INE), os 29 concelhos que compõem os distritos de Lisboa e Setúbal são responsáveis por 53% das participações por criminalidade grave e violenta. Ao todo, em 2019, houve 7652 queixas por crimes graves naqueles distritos (6101 em Lisboa e 1551 em Setúbal), com ambos a registarem uma subida de 3% face a 2018. O resto do país soma 6746 participações.
A nível nacional, o total de participações por crimes graves foi de 14398, mais 3% que em 2018, tendo-se invertido a tendência de redução que vinha sendo verificada desde 2010. Os roubos na via pública (exceto por esticão) são os crimes mais praticados e tiveram 5923 registos no país todo, mas mais de metade (3004) foi no distrito de Lisboa.
Na rua e em habitações
Lisboa registou um aumento de 14% nos roubos de via pública, mas também aumentaram 11% os assaltos violentos a residências, 7% as ofensas à integridade física graves, 3% o roubo em edifícios comerciais ou industriais e 43% as extorsões. Em Setúbal a realidade é semelhante, com o roubo na via pública (exceto por esticão) a subir 15%. Quanto à criminalidade grave, os outros distritos do país com relevância são o Porto (15,7% dos casos), Faro (6,2%), Braga (4,2%) e Aveiro (3,4%).
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Apesar do aumento dos delitos graves face a 2018, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, não está preocupado. O responsável destaca que, neste tipo de criminalidade, os últimos dois anos foram "os mais seguros desde que existe RASI". Os números do relatório dão razão ao ministro, mas 2019 também foi o primeiro ano, desde 2010, em que este tipo de delitos registou uma subida em relação ao período homólogo anterior.
O RASI deve ser apresentado na Assembleia da República até amanhã, embora o limite legal para entrega seja a próxima terça-feira. O documento foi aprovado anteontem, na reunião Conselho Superior de Segurança Interna (CSSI), que no final emitiu um comunicado onde realça que a delinquência grave representa "apenas 4,3% de toda a criminalidade participada".
Contactado pelo JN, o representante do PSD no CSSI, André Coelho Lima, afirmou que as orientações do relatório para 2020 deveriam incluir "o conceito de segurança sanitária" pois, à data em que é aprovado, a covid-19 é "um dos maiores temores que as pessoas vivem no seu dia a dia". Quanto aos dados de 2019, o social-democrata aponta a subida de 10,6% da violência doméstica contra cônjuges e o aumento de 47% dos crimes informáticos.
Menores entre 12 e 16 anos cometem quatro delitos/dia
A delinquência juvenil inverteu a tendência de descida verificada desde 2015 e subiu 5,8% em 2019. Houve um total de 1568 casos, o que dá uma média superior a quatro crimes diários praticados por jovens entre os 12 e os 16 anos. Este ano também se têm sucedido episódios de violência entre jovens. Há uma semana, perto do Campo Grande, em Lisboa, James Boyce, de 15 anos, foi morto à facada por um rapaz de 14, numa rixa combinada nas redes sociais, a que assistiram outros elementos dos dois grupos rivais de que os menores faziam parte. Os delitos de grupo, com três ou mais pessoas, também estavam a diminuir desde 2010 mas registaram um agravamento de 15,9%. Foram 5215 casos, mais 715 que em 2018, com enfoque "no setor da segurança privada, sobretudo em contexto de diversão noturna", lê-se no RASI.