O Ministério Público (MP) já tinha emitido um mandado de detenção no dia 3 deste mês, por alegada autoria do ataque a uma jovem de 20 anos, mas o mesmo não foi executado a tempo de evitar que, domingo de manhã, dia 8, o suspeito matasse uma freira de S. João da Madeira, com 61 anos. Ontem à tarde, a Polícia Judiciária (PJ) informou que o homem, um cadastrado de 44 anos, terá estrangulado a religiosa e mantido relações sexuais com ela já cadáver.
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Alfredo saiu em maio da cadeia, onde cumpria uma pena de 16 anos por dois crimes de violação. E em agosto, ainda em liberdade condicional, terá arrastado uma rapariga, no lugar de Parrinho, ao longo de 70 metros. A suposta tentativa de sequestrar e violar a jovem seria frustrada pela resistência oferecida e pelo aparecimento de um popular, tendo o suspeito acabado por fugir. Mas a PSP de S. João da Madeira acabaria por recolher elementos que associavam Alfredo, ou "Tito", àquela tentativa de sequestro e a outras ocorrências, como o roubo de um telemóvel. Em consequência, no dia 30 de agosto, a PSP pediu ao MP mandados de busca e de detenção contra Alfredo.
O dia 30 de agosto, penúltimo das férias judiciais, foi uma sexta-feira. E o pedido de mandados, precisou ontem a Procuradoria-Geral da República (PGR) ao JN, "foi recebido no período da tarde". Com o fim de semana à porta, não foi atendido no sábado, no domingo, nem na segunda-feira. "O MP promoveu a busca e emitiu o mandado de detenção no dia 3 de setembro [terça-feira], tendo remetido o processo ao juiz de Instrução", esclareceu, ontem à noite, a PGR.
Aquele esclarecimento indica que o MP de S. João da Madeira optou por emitir, ele próprio, um mandado de detenção do suspeito, fora de flagrante delito, mas não ordenou a sua execução imediata pela PSP. Remeteu-o antes para o juiz de instrução criminal da Feira, a quem pediu que emitisse, adicionalmente, um mandado de buscas à casa do suspeito.
Golpe mata-leão fatal
No juízo de instrução criminal da Feira, o mandado de busca só foi emitido a 6 de setembro, sexta-feira. Segundo disse ontem ao JN o juiz-presidente da Comarca do Baixo Vouga, Paulo Brandão, aquele expediente processual "foi colocado na secretaria do tribunal, à disposição do órgão de polícia criminal, ainda no dia 6". Alfredo continuou em liberdade e pôde assim encontrar-se com a freira Antónia Guerra de Pinho, domingo de manhã, numa pastelaria de S. João da Madeira.
Depois de saírem da pastelaria, o suspeito atraiu a vítima "até ao interior da sua habitação, com o pretexto de lhe oferecer um café por esta o ter transportado na sua viatura até ali", informou ontem a PJ do Porto. Já em casa, o homem disse que "queria manter relações sexuais", relatou a PJ, acrescentando que, perante a recusa, "o detido recorreu à força física aplicando à senhora um golpe de estrangulamento denominado mata-leão que terá sido a causa da morte". "Posteriormente, deitou-a sobre a cama e terá mantido relações sexuais", informou ainda a Judiciária, que acabaria por deter o suspeito ainda no domingo.
Segundo informações recolhidas pelo JN, Alfredo terá alegado que não quis matar Antónia, mas apenas imobilizá-la, tendo depois pensado que estava só inanimada.
Os mandados de busca e detenção chegaram à PSP apenas ontem.
Homicida pediu ajuda para deixar a droga mas nunca apareceu
Alfredo, conhecido por "Tito" e com um longo cadastro criminal, saíra em maio da prisão onde cumpriu pena por violar duas jovens. Tinha um percurso ligado à toxicodependência e, desde que regressou a casa, procurou apoio três vezes no Trilho, uma valência da Santa Casa da Misericórdia que acompanha consumidores de substâncias estupefacientes. "Marcou cá três atendimentos, mas faltou sempre. Nunca chegámos efetivamente a acompanhá-lo", diz Branca Correia, daquela instituição.
Pormenores
Freira frequentava redes sociais e ginásio - A freira "Tona", como Antónia Pinho se intitulava ( e até tinha um emblema próprio com uma abelha), tirou a carta aos 50 anos e era admiradora do Papa Francisco. Ativa nas redes sociais, também gostava de se manter em forma e frequentava o ginásio.
Suspeito ouvido por um juiz esta terça-feira - O suspeito do crime passou as duas últimas noites nas celas da Polícia Judiciária do Porto e deverá ser hoje levado perante um juiz de instrução criminal no Tribunal de Santa Maria da Feira.
* Com Catarina Silva