Como o homicida não pagou a compensação de 514 mil euros, o Estado avançou com cerca de 34 mil euros. É uma gota nas despesas médicas que tem de suportar.
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Marta Nogueira é a menina que recusou morrer. Tinha 21 anos quando o namorado que enjeitara dias antes a baleou com dois tiros na cabeça e matou a prima Joana, que procurou defendê-la. Volvidos 10 anos, Marta vive com duas balas na cabeça e com dificuldades na fala e no equilíbrio, foi operada mais de 30 vezes e tem ultrapassado todos os obstáculos, superando as expectativas médicas, graças às terapias que terá de manter para o resto da vida. A família, gente com parcos recursos, já gastou o que tinha e o que não tinha. "Mais de 200 mil euros" em despesas médicas, conta o pai, João Nogueira. O agressor nunca pagou a indemnização de 514 mil euros a que foi condenado. Por ordem judicial, o Estado avançou com 34.680 euros, o máximo que a lei permite.
Como o homicida não tem recursos económicos para pagar a indemnização de 514 mil euros, a dividir pelas famílias das duas vítimas, e para suportar as despesas médicas de Marta (cujo relatório pericial lhe atribuiu uma incapacidade permanente de 90%), os juízes ordenaram que fosse acionado o fundo da Comissão de Proteção às Vítimas de Crime. A ajuda, que corresponde a cerca de 7% do valor da compensação fixada pelo tribunal, já chegou a Marta. No entanto, os pais de Joana, que morreu a 15 de abril de 2015, nada receberam. Aquela comissão indeferiu o pagamento de qualquer quantia, uma vez que a lei só permite compensar as vítimas e os descendentes a seu cargo. Joana não tinha filhos.
O pai e a mãe de Marta nunca a deixaram só. A filha, agora adulta com 31 anos, continua a ser a exclusiva preocupação do casal. Enquanto a mãe Maria da Luz fica, noite e dia com a jovem, João Nogueira pouco dorme para "poder trabalhar, todos os dias" da semana, poupando "cêntimo a cêntimo" para "dar vida" à filha. Os tratamentos de que não pode abdicar são caros e Marta também tem feito o que pode para angariar dinheiro. Já escreveu um livro, "para pagar a minha fisioterapia", como explica, e tenciona escrever outro. É uma edição de autor, custa 10 euros e "é metade para mim, metade para a tipografia". A "menina milagre" tem página e recolhe donativos através do MB Way 936 422 515 e do nib PT50 0045 2140 4025 2364 9498 5.