Caçador julgado por disparar contra javali e matar prima ficou em silêncio no Tribunal de Vila Real. Mãe emocionada.
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"Matou a minha filha e nem pediu desculpa. Ela faz-me muita falta e nunca mais a posso ver". Foi assim que Maria Oliveira Lopes, a mãe da mulher, de 28 anos, que foi morta a tiro por um primo caçador, relatou a revolta e a dor pelo falecimento da filha, no Tribunal de Vila Real, onde António Dias Fernandes, 60 anos, começou na quinta-feira a ser julgado.
O homem, que se manteve em silêncio, responde por homicídio qualificado, tentativa de homicídio de uma segunda mulher que acompanhava a vítima mortal numa caminhada na EN 15, em Leirós, Vila Real, e de um crime contra a preservação da fauna e das espécies cinegéticas, por caça em zona proibida. O caçador tentava atirar para um javali mas acabou por atingir a vítima mortal.
Em lágrimas, a mãe da vítima, Paula Fernandes, relatou aos juízes que a filha estava a fazer uma caminhada, como habitualmente, com amigas, quando foi atingida.
O caso aconteceu em julho de 2017. Para o Ministério Público (MP), o arguido apercebeu-se da presença das mulheres na estrada e, mesmo assim, decidiu alvejar o javali. "Deslocou-se para o eixo daquela estrada com o propósito de o abater", diz o MP, para quem o homem disparou, simultaneamente, na direção do javali e das vítimas.
A acusação sustenta que as mulheres, vestidas com coletes refletores, "conversavam entre si, sendo por isso a sua presença e voz facilmente percetíveis pelo arguido".
Paula Fernandes foi atingida no pescoço e faleceu pouco depois, no Hospital de Vila Real. A acusação adianta que o arguido, apesar de se ter apercebido de que tinha atingido Paula em vez do javali e de ouvir os gritos de socorro, não as acudiu e foi para casa. Foi detido pela Polícia Judiciária no dia seguinte, depois de o pai da vítima o ter apontado como suspeito.
O pai da vítima, Fernando Lopes, foi a primeira testemunha a depor e disse que o arguido era um caçador descuidado. Contou que, há mais de 20 anos, António Dias Fernandes o atingiu numa mão e num pé, durante uma caça ao coelho. No dia da tragédia, António foi dos primeiros a chegar.
"Agarrei a minha filha e esperamos pelo INEM. Perder uma filha desta forma é muito difícil. Ninguém sabe o que isso custa", disse o pai da vítima.