GNR recebe queixa por agressões de colegas mais velhos. Mãe critica inação do agrupamento escolar de Torres Novas.
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Um caso de "bullying" sobre uma criança de seis anos, numa escola primária de Torres Novas, deu origem a uma queixa na GNR, no âmbito do programa "Escola Segura". G., a frequentar o 1.º ano de escolaridade, foi agredido durante mais de um mês e acabou obrigado a mudar de estabelecimento de ensino para escapar aos agressores, três meninos mais velhos.
A existência de um caso de "bullying" na primária em causa foi confirmada ao JN pela própria GNR, que já remeteu os factos para o Tribunal de Família e Menores de Tomar. A situação foi "também sinalizada à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) territorialmente competente". Contactada pelo JN, a diretora do Agrupamento de Escolas Gil Paes, ao qual pertence o estabelecimento primário, não se pronunciou sobre o caso.
As agressões começaram, segundo a mãe de G., no início de novembro e duraram até meados de dezembro, altura em que os pais decidiram transferir o menino de escola. Um mês depois da mudança, Inês Q. não consegue conter a satisfação por o filho ter tido uma avaliação de conhecimentos satisfatória. Mas o alívio depressa dá lugar às lágrimas ao recordar o caminho que G. tem de percorrer para se dar com os colegas, querer ir ao recreio ou não chorar com tanta frequência.
Durante mais de um mês, a criança, garante a mãe, foi perseguida na sua anterior escola por três meninos, que terão chegado, em ocasiões distintas, a apertar-lhe o pescoço, a deixar-lhe a marca de um sapato na cara, a feri-lo nos genitais e a partir a sua lancheira.
Inicialmente, Inês Q. ainda pensou que conseguiria solucionar o problema no seio do estabelecimento de ensino, mas a única forma de pôr fim às agressões foi mudar o filho de escola.
Necessita de apoio
"Nós sempre dissemos: "a vítima não vai mudar de escola". Até ao dia em que nos intimidam, que nos dizem que o problema é de casa e que queriam pôr mais uma funcionária, que aquilo iria parar. Só que aquilo não parou: cada vez foi mais", conta Inês Q. Em janeiro, G. passou então a frequentar outra primária, a quase meia hora de distância da anterior e de casa. A mãe queixa-se de que nem nessa transferência teve o apoio da Direção do Agrupamento de Escolas Gil Paes.
No novo estabelecimento, o menino deixou de ser vítima de "bullying". Só que o medo subsiste e G. precisa, segundo Inês Q., de apoio de um psicólogo infantil, um pedopsiquiatra e um neuropsiquiatra, a cujos serviços não tem conseguido aceder, em tempo útil, no Serviço Nacional de Saúde.
Os preços no setor privado são proibitivos e, por isso, a família criou uma página para receber contributos: "Ajudar o G. nas consultas de Pedopsiquiatra", alojada na plataforma gofundme.com. Os progressos de G. podem ser acompanhados no Instagram e no Facebook.
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Agrupamento diz que zela pelo bem-estar de todos
O JN confrontou, por escrito, a diretora do Agrupamento de Escolas Gil Paes, ao qual pertence a primária em causa, com o relato da mãe da vítima. Isilda do Nascimento Pereira optou, contudo, por não se pronunciar sobre o caso da criança. "A preocupação e responsabilidade do agrupamento passa por valorizar e favorecer condições funcionais e pedagógicas essenciais para o dia a dia da unidade orgânica e suas escolas, com particular dedicação ao bem-estar e sentido de integração e promoção de sucesso escolar de todos os nossos alunos", disse. O agrupamento tem sete escolas, quatro das quais primárias.
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Fenómeno escolar
O Observatório Nacional de Bullying recebeu, no ano passado, 82 denúncias. Em 97,6% o agressor e a vítima frequentavam a mesma escola. Têm em média, respetivamente, 15 e 13 anos de idade.
Aspeto físico
Mais de metade (53,7%) dos casos registados foram motivados pelo aspeto físico da vítima. Os resultados académicos originaram igualmente um grande número de agressões (48,8%).
Consequências
Tristeza, ansiedade e/ou nervosismo e vergonha são as principais consequências do "bullying" nas vítimas, por vezes vividas em simultâneo.