Ex-presidente do Sporting indiciado por 56 crimes, incluindo um de terrorismo, no inquérito sobre o ataque à Academia de Alcochete.
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O Ministério Público (MP) quer que o ex-presidente do Sporting Bruno de Carvalho e o ex-líder da Juve Leo Nuno Vieira Mendes ("Mustafá") tenham o mesmo destino que os outros 38 detidos pelo ataque à Academia de Alcochete, ou seja: a prisão preventiva. E vai propô-lo ao juiz de instrução do tribunal do Barreiro, perante o qual ambos serão hoje levados, sob fortes medidas de segurança.
Bruno de Carvalho, que foi detido em casa no último domingo, está indiciado por 56 crimes, incluindo terrorismo. Além deste, o MP imputa ao ex-líder sportinguista crimes de dano com violência, sequestro, ofensa à integridade física, detenção de arma proibida e ameaça agravada. Praticamente os mesmos pelos quais respondem os restantes alegados autores do ataque de 15 de maio.
O MP acredita que terá sido o próprio Bruno de Carvalho, após a derrota do Sporting, na Madeira, contra o Marítimo, quem mandou a Juve Leo "ir para cima dos jogadores". Tê-lo-á feito através de contactos com Mustafá, motivando assim o ataque por parte de 43 encapuzados a jogadores, staff e técnicos da equipa de Alvalade. A tese do Ministério Público foi reforçada através da audição dos 38 arguidos no processo, bem como pela análise dos telemóveis apreendidos.
Segurança reforçada
Bruno de Carvalho e Mustafá começam hoje a ser ouvidos pelo juiz de Instrução Criminal. Ontem, a PSP recebeu ordem para reforçar a segurança. Trata-se de uma medida preventiva, não tendo existido, até à tarde de ontem, previsão de conflitos.
Ao JN, José Preto, o advogado do ex-dirigente leonino, não se quis alongar sobre as medidas de coação promovidas pelo Ministério Público. "Em altura certa e sede própria se discutirá esse assunto". No domingo, o advogado mostrou-se indignado e revoltado com a detenção de Bruno de Carvalho neste dia de descanso, por "ainda há 15 dias" ter mostrado "disponibilidade para colaborar voluntariamente com a justiça". Mas esta disponibilidade de pouco adiantará, se o MP der como assente que existam os perigos de fuga (Bruno de Carvalho tem dupla nacionalidade, portuguesa e moçambicana), de perturbação do inquérito ou de continuação da atividade criminosa, os fundamentos da prisão preventiva.
Visita da família
Ontem, na GNR de Alcochete, onde Bruno de Carvalho pernoita desde domingo, familiares foram visitá-lo, acompanhados do advogado. Alexandra Carvalho mostrou-se indignada por ter sido difundida a morada do seu irmão, o que considerou um perigo para o próprio. Já o pai, Rui de Carvalho, reafirmou a inocência do filho aos jornalistas, com "100% de certeza".
O Ministério Público acredita que o plano traçado pelos invasores da Academia seria intimidar através de atos violentos os jogadores e a equipa técnica, privando-os ainda da liberdade se necessário fosse.
Dois dias depois da derrota no Funchal, onde o líder da Juve Leo confrontou a equipa técnica e jogadores no aeroporto, avisando "por tudo... falamos em Alcochete", o grupo encontrou-se, às 16 horas, no estacionamento de uma superfície comercial no Montijo, longe das câmaras de vigilância, e às 17 horas partiram para a Academia, onde agrediram jogadores, staff e equipa técnica.