Jovem, de 19 anos, morreu com tumor cerebral nunca diagnosticado. Depois da absolvição dos médicos, família exige indemnização ao hospital.
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Sara Moreira morreu em janeiro de 2013, depois de ter passado 11 vezes pelo serviço de urgência do Hospital Padre Américo, em Penafiel, sem que nenhum médico lhe tivesse diagnosticado um tumor cerebral. Dez anos passados, o caso ainda anda pelos corredores da Justiça. Num segundo julgamento, que decorre no Tribunal Administrativo e Fiscal de Penafiel (TAFP), os pais e o irmão (deficiente e totalmente dependente de terceiros) da jovem que faleceu com 19 anos exigem 530 mil euros de indemnização à unidade de saúde.
A ação administrativa para efetivação da responsabilidade civil é justificada no processo, que o JN consultou, pelos "errados diagnósticos, a não utilização de meios complementares de diagnóstico em imagiologia e a omissão de tratamentos adequados". Estes lapsos, sustenta a família, contribuíram para a morte da jovem de Recarei, em Paredes. Para os pais e irmão de Sara Moreira, o óbito poderia ter sido evitado se a rapariga tivesse tratamento adequado.
O julgamento no TAFP já vai na quarta sessão, tendo sido ouvidos, até agora, vários peritos médicos arrolados pela família da vítima.
Vista por cinco médicos
Alguns daqueles peritos já se pronunciaram sobre o caso num primeiro julgamento, de âmbito criminal. Em abril de 2017, os cinco médicos que, entre 2010 e 2013, observaram Sara Moreira nas 11 vezes que esta passou pelo Serviço de Urgência do Hospital Padre Américo foram acusados pelo Ministério Público (MP) do crime de legis artis.
Segundo dizia o MP, os clínicos não tinham cumprido os procedimentos corretos e mais adequados em oito das vezes que Sara Moreira esteve no hospital. Também deviam ter submetido a jovem a uma tomografia axial computorizada (TAC) ou a uma ressonância magnética para apurar os motivos da doença.
Em sentença proferida em julho de 2019, os juízes do Tribunal Judicial de Penafiel concordaram que tinha havido "erro de diagnóstico" e que os médicos deveriam ter pedido uma TAC ou uma ressonância magnética nunca feita.
No entanto, os magistrados também concluíram que os arguidos não agiram de forma dolosa, nem com intenção de provocar a morte. Tal como o hospital sempre defendeu, o tribunal entendeu ainda que os médicos atuaram de acordo com a informação que tinham e com os sintomas que a paciente apresentava. E decretou a absolvição de todos os acusados.
Jovem chegou a desmaiar durante consulta
Em fevereiro de 2010, Sara deslocou-se pela primeira vez ao hospital, devido a fortes dores de cabeça. Seguiram-se perdas de consciência, vómitos e incontinência. "Numa das vezes que foi ao hospital, a minha filha chegou a desmaiar quando estava a ser observada pelo médico", contou ao JN a mãe Maria de Fátima Silva, em junho de 2016. Apesar destes sintomas, o tumor alojado no cérebro de Sara nunca foi diagnosticado e a rapariga de 19 anos morreu dois dias após a última passagem pelo hospital.