Cidadão estrangeiro aguardava pelo autocarro para ir trabalhar quando foi interpelado por agente da PSP, que o algemou e levou para a esquadra, de onde saiu com um braço partido.
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O Ministério Público (MP) acaba de acusar um agente da PSP de Beja de crime de tortura e outros tratamentos cruéis, degradantes ou humanos, que vitimaram um imigrante ucraniano.
Segundo o inquérito do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Évora, o arguido cometeu os crimes no âmbito de funções policiais, na madrugada de 12 de novembro de 2019, numa artéria da cidade de Beja.
No dia seguinte aos crimes, o JN revelou as acusações feitas pela vítima, que alegou que o polícia estaria alcoolizado e agrediu-o a pontapé, cerca das 6 horas, junto à Esquadra de Trânsito, para onde tinha sido levado para ser inquirido.
Aleksander Buiniakov, então com 40 anos, trabalhador da empresa alemã Conecon, que na data dos factos procedia à montagem de painéis solares em Ferreira do Alentejo, deu entrada no Serviço de Urgência do Hospital de Beja, às 7.21 horas, com uma fratura no braço esquerdo.
Sílvio Isac, encarregado da empresa, que se deslocou ao hospital para acompanhar o trabalhador porque este não fala português, disse então ao JN que "o agente chegou junto do autocarro que faria o transporte dos trabalhadores e exigiu a identificação dos homens. Desatou a ofender as pessoas e puxou da pistola e levou o Aleksander para a esquadra. À porta da mesma e com ele algemado, agrediu-o a pontapé", acusou ainda.
Após deixar o hospital, cerca das 15 horas do mesmo dia, Aleksander Buiniakov e Sílvio Isac dirigiram-se à esquadra de Polícia e formalizaram a queixa contra o agente da PSP envolvido no caso.
Processo disciplinar
Ainda nesse dia, o comissário Paulo Graça, do Comando de Beja, reagiu: "Temos conhecimento de que um indivíduo foi conduzido à esquadra para ser identificado e que pelos seus meios foi ao hospital. Aguardamos a elaboração do auto para averiguarmos o que se passou. Se for formalizada queixa contra o agente, será aberto um processo disciplinar", disse ao JN.
Já ontem, após ser conhecida a acusação, publicada na página na Internet do DIAP, o comandante da PSP Raul Glória Dias, disse que "quando foi formalizada a queixa na PSP e o cidadão participou a situação à sua Embaixada, no início de 2020, o Comando Distrital antecipou-se e abriu um processo disciplinar ao agente acusado. Agora vamos juntar a acusação do MP ao processo e aguardar a decisão judicial para tomar uma decisão", concluiu.
O DIAP refere na sua comunicação que "os autos foram parcialmente arquivados relativamente a outros factos denunciados, envolvendo diversos intervenientes".
Outros casos
Guardas condenados por agredir indianos
Cinco militares da GNR do Destacamento Territorial de Odemira, acusados de crimes de sequestro e agressão a imigrantes indianos cometidos em setembro de 2018, foram condenados a penas de prisão entre os três anos e meio e seis anos. O que apanhou a pena mais pesada está preso em Tomar.
Telemóveis tramam sete guardas
Aquando da detenção de cinco militares da GNR, em maio de 2019, por agressão e sequestro de imigrantes indianos, a PJ apreendeu e analisou os telemóveis dos arguidos, tendo detetado as fotografias e vídeos onde outros cidadãos asiáticos foram alvo de maus-tratos. Sete militares do posto da GNR de Vila Nova de Milfontes Destacamento Territorial de Odemira foram então acusados de 33 crimes, entre os quais sequestro, ofensas à integridade física qualificada e abuso de poder.
Agressões na passagem de ano
Um cidadão português, alegada vítima de uma carga policial na noite da última passagem de ano, apresentou queixa a diversas instituições, entre as quais o Ministério Público, contra um grupo de agentes da PSP de Beja que terá agredido indiscriminadamente diversas pessoas, na sua maioria imigrantes.
Disciplina
47 polícias corridos desde 2016
De 2016 a 2021, a PSP mandou sair da corporação 47 agentes e oficiais condenados pela prática de crimes contra pessoas e outros, segundo informações da Direção Nacional. Em cinco anos foram suspensos sete polícias pelo mesmo motivo. A PSP tem cerca de 23 mil efetivos.
14 militares expulsos por corrupção
Nos últimos cinco anos, a GNR expulsou 14 militares pela prática de crimes de corrupção. O Comando-Geral da Guarda não revelou o número de militares expulsos devido a outros tipos de crimes. A GNR tem perto de 24 mil militares.