
Mãe e filha vivam neste prédio desde há cerca de dez anos e as discussões eram frequentes
Paulo Spranger/ Global Imagens
Vizinhos ouviam discussões entre as duas mas não imaginavam desfecho trágico. Polícia Judiciária está a investigar.
Na Rua Teixeira de Pascoais, a poucos metros do Tribunal de Oeiras, esta quarta-feira vivia-se um ambiente de consternação. Os vizinhos de Joana, de 40 anos, suspeita de ter espancado a mãe, Adelaide, uma professora reformada de 71 anos, provocando-lhe a morte, já estavam habituados às discussões entre as duas, mas nada que fizesse antever o que aconteceu na madrugada de quarta-feira. Quando a PSP e os bombeiros chegaram ao local, depois dos vizinhos ligarem para o INEM, já nada havia a fazer para salvar a septuagenária. A Polícia Judiciária está a investigar o caso.
Eram 2.47 horas quando a vizinha de Joana e Adelaide, que preferiu não ser identificada, começou a ouvir "um som, como um batuque, como quando batemos com a cabeça na parede, mas repetidamente, e gritos e, depois, silêncio". "Durou cinco minutos. Não percebia se os gritos eram da mãe ou da filha. Não houve nenhuma discussão antes, ao contrário das outras vezes. Aconteceu de repente", conta ao JN, ainda perturbada. Chamou o INEM e enquanto esperavam ainda desceu com o filho ao andar de baixo para tentar ajudar, mas nem mãe nem filha responderam.
Segundo os Bombeiros de Odivelas e o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, a mulher já estava morta quando chegaram ao apartamento onde Joana e Adelaide viviam há cerca de dez anos. Após alguma insistência para entrarem, Joana acabou por abrir a porta e foi aí que as autoridades se depararam com a antiga professora "prostrada e com marcas de agressão", avançou ao JN a PSP. Procedeu-se a manobras de reanimação, mas o óbito foi declarado no local.
"Reservadas"
No café, cabeleireiro e farmácia das imediações ninguém as conhecia. Os vizinhos do bairro pacato, no centro de Oeiras, descrevem as mulheres como "reservadas e de poucas palavras". "Saíam pouco de casa, principalmente a senhora que morreu", disse um dos moradores. Adiantaram ainda que a filha sofria de problemas psiquiátricos desde criança e tomava medicação, um assunto que, por vezes, era referido nas reuniões de condomínio.
"A Adelaide pedia desculpa por a filha ter incomodado uma vizinha ou gritado. Uma vez, contou que ela teve uma doença na infância que lhe afetou o cérebro", disse ao JN uma vizinha.
Joana era segurança privada, mas estaria desempregada desde o início da pandemia covid-19, confirmaram vários moradores. Segundo os vizinhos, "ouviam-se algumas discussões", mas não esperavam este desfecho, até esta quarta-feira. "Depois de ouvir aquele som percebi, que poderia ser muito grave", adianta ainda a vizinha que chamou o INEM.
A alegada homicida está detida e hoje deverão ser conhecidas as medidas de coação. A Polícia Judiciária está a investigar o caso.
Outros casos
Matou o pai
Em fevereiro de 2020, um homem, de 22 anos, matou o pai, em Vila Verde. Confessou o crime. Disse que a mãe sofria agressões, insultos e ameaças do pai e que só o queria "assustar".
Relação fatal
Em abril de 2018, um homem, de 30 anos, matou os pais à facada, no Barreiro. Toxicodependente, tinha uma relação conflituosa com os pais, que maltratava.
Crime e suicídio
Em julho de 2013, em Sarilhos Grandes, no Montijo, um homem, de 30 anos, matou os pais e suicidou-se na estação de caminhos de ferro da Penalva, no Pinhal Novo.
