Narcolanchas são fabricadas em Portugal, carregadas em Marrocos e abandonadas em Espanha
O Ministério Público espanhol não duvida que, entre janeiro de 2021 e junho de 2022, uma organização fabricou narcolanchas “através de empresas e entrepostos industriais, situados tanto em Espanha como em Portugal”.
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As embarcações, sustenta a acusação de junho do ano passado, eram vendidas a traficantes de haxixe para serem lançadas “ao longo da costa espanhola, para concluir operações marítimas de contrabando de droga”.
O grupo, liderado por dois espanhóis e com mais dez membros, possuía um armazém em Vigo, Espanha, no qual eram fabricados cascos para barcos semirrígidos de alta velocidade. No entanto, pressionados pela lei do país vizinho, os empresários constituíram uma empresa em Portugal para “dar cobertura legal ao fabrico de embarcações rápidas”. E compraram dois armazéns no Parque Empresarial de Gandra, em Valença, e na zona industrial da Castanheira, em Paredes de Coura.
Nos meses seguintes, foram adicionando empresas nacionais ao rol de parceiros e passaram a controlar armazéns em Vila Verde, Monção e Viana do Castelo. Sempre de forma legal e com portugueses na montagem das embarcações.
“Os arguidos financiaram a atividade de fabrico, pagando às pessoas [incluindo portugueses] que construíam as lanchas, inscrevendo-as na Segurança Social e fornecendo-lhes os materiais necessários. Também contratavam, coordenavam e pagavam o transporte e as transferências das lanchas entre os diferentes armazéns onde se concluía o seu fabrico e os locais de entrega aos destinatários finais”, descreve a acusação.
Geolocalizadores
Uma das embarcações construídas no Minho seria abandonada em Almeria, Espanha, após ter transportado 957 quilos de haxixe a partir de Marrocos. Os polícias galegos chegaram à sua localização, porque, com a colaboração das autoridades nacionais, invadiram o armazém de Vila Verde a coberto da noite e colocaram um geolocalizador na embarcação.
A técnica, autorizada pelos juízes, foi usada noutra investigação. Numa madrugada de outubro de 2021, os polícias entraram no armazém de um construtor naval português, em Viana do Castelo, esconderam um dispositivo de localização na lancha e perceberam que, no mês seguinte, esta foi transportada, de camião, para Múrcia, também em Espanha, e, a 2 de dezembro, lançada ao mar.
A Audiência Provincial de Pontevedra acusou, neste segundo processo concluído em dezembro de 2024, 12 elementos de um grupo “que se dedicava, de forma concertada e constante, à produção, distribuição e entrega de embarcações semirrígidas de alta velocidade, que eram usadas para concluir operações de transporte de substâncias estupefacientes, com destino à costa espanhola”.
Entre os arguidos está o representante comercial de uma empresa portuguesa em Espanha, que seria responsável pelo processo de produção e transporte das narcolanchas. Os dois casos ainda não chegaram a julgamento.
Buscas
Cinco concelhos
A Guarda Civil, com o apoio da PJ, realizou buscas em seis armazéns de Viana do Castelo, Valença, Vila Verde, Paredes de Coura e Monção.
Lanchas de 187 mil euros
Foram apreendidas 13 narcolanchas. Algumas já com três a quatro motores de 300 cv cada um e mecanismos de navegação. A mais completa foi avaliada em 187 mil euros.
Cascos e bidões
Também foram apreendidos mais de 20 cascos de fibra de vidro (valiam entre 90 mil e 120 mil euros). Em Vila Verde estavam 241 bidões, cada um com 25 litros de gasolina.