Duplo risco de evasão e intimidações a quem colabora com a Justiça ditam reforço de proteção.
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São informações sigilosas que chegaram às autoridades portuguesas e que levaram ao reforço de segurança à volta do Tribunal de Instrução Criminal do Porto. Além do risco de tentativa de evasão, existem sérias ameaças de morte aos arguidos da Operação Admiral que decidiram colaborar com as autoridades na investigação à maior rede de fraude fiscal na União Europeia, suspeita de ter lesado vários estados em 2,2 mil milhões de euros. Só Portugal terá sido lesado em cerca de 320 milhões de euros, em sede de IVA, mas também de IRC.
As avaliações de risco feitas pelos serviços de informações do Estado e da PSP, logo após as detenções dos cabecilhas da rede, já apontavam para um grau elevado de perigo. Tanto é que o juiz de instrução criminal Pedro Miguel Vieira foi colocado sob medidas de segurança, com acompanhamento 24 horas por dia de elementos do Corpo de Segurança da PSP.
Mas, de acordo com informações recolhidas pelo JN, foram recentes averiguações e trocas de dados com entidades estrangeiras que fizeram soar os alarmes. Surgiram não só indícios de tentativas de evasão, como ameaças concretas aos arguidos que se mostraram arrependidos e decidiram ajudar a Justiça portuguesa a desmantelar os tentáculos da rede.
Milhões escondidos
A quase inesgotável capacidade financeira dos arguidos que, durante anos, terão amealhado centenas de milhões de euros, levou as autoridades a considerar, de forma séria, os riscos. É que a rede ainda terá muitos milhões escondidos em países sem acordos de cooperação judiciária internacional, como o Dubai, onde os suspeitos tinham ligações.
A investigação começou em 2021, em Coimbra. Os inspetores do Fisco detetaram fraudes no IVA de uma empresa que vendia equipamentos eletrónicos, como telemóveis e tablets.
As primeiras averiguações orientaram logo as autoridades para um esquema internacional de enorme dimensão e o caso foi comunicado à Procuradoria Europeia que delegou a investigação na Polícia Judiciária do Porto.
Nove mil empresas
Em parceria com o Fisco e polícias europeias, pôs-se a nu uma complexa teia de fraude fiscal que envolvia 30 países, nove mil empresas e 600 pessoas. A maioria eram simples testas de ferro.
A 29 de novembro, foram realizadas centenas de buscas que em Portugal levaram à detenção de 14 suspeitos, incluindo a ex-apresentadora de televisão Ana Lúcia Matos e o marido, Max Cardoso, tido como um dos cabecilhas da rede em solo nacional, a par de uma família francesa residente em Guimarães.
PORMENORES
Apreensões
A Operação Admiral permitiu apreender em vários países 67 milhões de euros em 529 contas bancárias, 81 imóveis, 21 carros de luxo, 2,5 milhões de euros em dinheiro, 104 relógios, 42 joias, dois milhões de euros em auriculares sem fios e uma metralhadora.
Ana Lúcia livre
Dos 14 suspeitos detidos em Portugal, apenas seis ficaram presos. A ex-apresentadora Ana Lúcia Matos foi um dos libertados. O marido, Max Cardoso, tido como um dos cabecilhas, ficou em prisão preventiva e está a colaborar com a Justiça.