Ao quarto dia, o corpo sem vida de Valentina, de 9 anos, que estava desaparecida, em Peniche, foi encontrado, ainda com o pijama vestido, num pinhal, coberto com arbustos, a seis quilómetros de casa.
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Morta pelo pai, com a ajuda da madrasta para esconder o cadáver e o crime, acreditam as autoridades. Sandro Bernardo, 32 anos, e Márcia, de 38, foram detidos ontem pela Polícia Judiciária (PJ) de Leiria, dados os indícios fortes e provas, incluindo biológicas, que apontam para homicídio e profanação e ocultação de cadáver. Os crimes aconteceram após uma altercação familiar "num contexto de alguma violência", explica a PJ. A causa da morte também não é conhecida. Asfixia é hipótese.
O pai já terá confessado o crime e ontem mesmo, juntamente com Márcia, colaborou com a PJ numa reconstituição, em casa e no pinhal, em Serra d"El-Rei, onde abandonou o corpo que levou de carro. Terá justificado o homicídio com uma reprimenda que acabou em tragédia, de forma acidental, e a ocultação do corpo por ter entrado em pânico, tal como a encenação do desaparecimento. As autoridades não estão convencidas de que o crime tenha sido premeditado ou planeado.
A menina, que normalmente vive com a mãe, Sónia, no Bombarral, desde que os pais se separaram, estava há mais tempo do que o habitual na casa de Sandro, no bairro do Capitão, na Atouguia da Baleia, com a madrasta, dois meios-irmãos pequenos e um filho de Sónia, de 12 anos. Face ao contexto de confinamento, por causa da pandemia, "já estava com eles há algum tempo", como referiu ontem o coordenador da PJ de Leiria, Fernando Jordão. Vizinhos e conhecidos referiram ao JN que a menina preferia estar com a mãe e até já fugira uma vez, em 2018, sendo encontrada uma hora depois. Esta vontade de regressar à mãe poderá ter sido a origem do conflito familiar. Segundo Fernando Jordão, não há conhecimento de episódios de violência doméstica ou de processos na proteção de menores.
Morta na quarta-feira
As causas da morte de Valentina só serão conhecidas com certeza na autópsia. O corpo estava desde quarta-feira no pinhal, exposto ao mau tempo e, por isso, já com sinais de decomposição e sem marcas exteriores que possibilitassem uma explicação definitiva.
A PJ acredita que o corpo foi ali deixado ainda na quarta-feira pelo pai, que só no dia seguinte denunciou o caso às autoridades, desencadeando uma gigantesca operação de buscas coordenadas pela GNR e pela Proteção Civil. Nos três dias de operações, cerca de 600 elementos, igualmente da PSP, e muitos voluntários, passaram a pente fino mais de quatro mil hectares, na freguesia e nos arredores, como explicou o comandante da GNR das Caldas da Rainha, Diogo Morgado. E num esforço de logística que foi montado em tempo recorde, lembrou o responsável da Proteção Civil de Peniche, José Rodrigues.
A investigação terá evoluído de forma significativa na sexta-feira, após a PJ efetuar exames forenses à casa, nos quais terão sido encontrados vestígios, incluindo alguns biológicos, que apontavam para um homicídio. Ainda assim, as autoridades fizeram sempre passar a ideia de que trabalhavam apenas na hipótese de desaparecimento, enquanto analisavam indícios e depoimentos recolhidos.
Aos populares, sempre causou estranheza "a tranquilidade" manifestada pelo pai da menor, que nunca chegou a participar nas buscas, mas deslocava-se com alguma frequência ao posto de comando instalado junto da sua habitação para "obter informação", segundo revelou ontem, em conferência de imprensa, Diogo Morgado. Por isso, a revolta é geral. O casal será hoje levado a tribunal. Os três filhos menores foram entregues a familiares.