"Como é possível fazer isto a uma menina de 9 anos? E aquele bandido por aí como se nada se passasse, enquanto o povo andava nas buscas por esses campos fora".
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Domingo à tarde, à porta do café "Forno da Vila", em Atouguia da Baleia, Peniche, os populares davam voz à revolta pelo desfecho do caso que trouxe aquela pequena freguesia de nove mil habitantes para as parangonas dos jornais.
Paulo Franco, o proprietário do café, era, ainda assim, dos mais tranquilos, até, porque, como contou ao JN, "apesar de não os conhecer bem", considerava Sandro Bernardo "uma pessoa educada e sempre calma com a menina". Diz que, apesar dos rumores que correm sobre alegada ligação a drogas, nunca viu o presumível homicida sequer a beber cerveja". "Aqui, era só café e tabaco. Mais nada", assegura.
No entanto, ao relembrar os acontecimentos dos últimos dias, o empresário confessa que houve algo estranho: "A casa deles fica a menos de 100 metros do café. Ora, se deram pelo desaparecimento às oito da manhã, era lógico que viessem logo aqui perguntar se alguém a tinha visto, até porque não há mais nenhum estabelecimento por perto. Mas só às 14 horas é que veio a madrasta".
Um casal "estranho"
Em choque, como os seus clientes, mas repetindo que tudo lhe parecia "muito estranho", conclui que, afinal, "a madrasta veio ao café perguntar pela menina e ela já estava morta". Cá fora, os populares não dão o benefício da dúvida. "Então veio gente de mais de 100 quilómetros para procurar a menina e ele [o pai] andava aqui como se nada se passasse?", interroga-se Carlos Santos, que participou ativamente nas buscas nos últimos dias.
O ambiente aquece quando, a meio da tarde, chega um carro da Polícia Judiciária, com o pai de Valentina, e alegado homicida, para a reconstituição do crime.
"Assassino! Monstro! Deviam era entregar-te ao povo". A emoção dos presentes solta-se sem rédeas. Há quem não contenha as lágrimas, quem chegue parra deixar flores. Outros insistem que o casal era "estranho", ainda que todos assumam que "ninguém os conhecia bem", porque Sandro e Márcia residiam naquele local há menos de um ano. Um popular acerca-se dos repórteres, pede para não ser identificado, para contar que "ela [a madrasta] era um bocado extravagante". E vai mais longe: "Os dois gostavam muito das festas... da noite".
"Era uma menina doce"
A noite já ameaça cair quando Márcia Bernardo sai da casa onde o crime ocorreu. Tal como o marido, é brindada com um chorrilho de insultos. "Assassina!" é, ainda assim, dos mais suaves.
Ao cabo de três dias de angústia , na memória coletiva fica o sorriso inocente de Valentina. Paulo Franco conhecia-o bem das idas ao café: "Era uma menina doce. Sempre bem disposta, com um sorriso. Era uma simpatia".