Na Pasteleira Nova não há atividades para afastar crianças da droga. Associações exigem mais meios.
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Pouco ou nada é feito no Bairro da Pasteleira Nova, no Porto, para afastar as crianças do submundo da droga ou para apoiar idosos obrigados a viver entre traficantes e toxicodependentes. Rareiam as atividades desportivas e culturais e não existem estruturas sociais.
Todos se sentem "descartados" e temem que o narcotráfico seja apenas, à semelhança do que aconteceu no Aleixo, uma justificação para demolir os prédios e vender os terrenos a imobiliárias ávidas para construir empreendimentos de luxo.
Ao JN, um morador tolhido pelo receio de represálias pede para esconder a identidade enquanto conta o que muitos dos vizinhos sofrem. "Todos nos sentimos descartados. Não temos apoio de ninguém", revela.
"A vida no bairro não é fácil. Há famílias que não levam um familiar ou amigo a casa há anos. Têm vergonha ou medo de que estes sejam parados no meio da rua por um traficante que não permite a entrada de estranhos", continua.
Os problemas não se ficam por aqui. Ao consumo de droga à porta da habitação e tráfico nas vielas, soma-se a falta de atividades vocacionadas para as crianças. No interior do próprio bairro nada permite a prática regular e federada de desporto. E nas imediações só o futebol da Associação Desportiva e Recreativa da Pasteleira (ADRP) e a natação do Clube Fluvial portuense são alternativas. O deserto cultural é ainda mais árido.
"Precisámos de atividades, que sejam gratuitas, para manter os miúdos entretidos e longe da droga", apela o residente.
Uma associação de moradores foi constituída em 2019 para dinamizar a Pasteleira Nova. Tinha objetivos concretos, mas nem uma sede conseguiu obter. Um subsídio anual de 1200 euros da Junta de Freguesia de Lordelo do Ouro e Massarelos é o único amparo.
Integração
É também esta Autarquia que apoia o clube de futebol cujo recinto fica a menos de um quilómetro do epicentro do tráfico de droga na cidade do Porto. Com 2500 atletas, a ADRP cobra uma mensalidade de 30 euros, mas não afasta quem não dispõe de meios para pagar. "Muitos atletas moram na Pasteleira Nova e no Pinheiro Torres e a mensalidade de quem passa dificuldades é comparticipada pela Junta de Freguesia", garante o presidente Carlos Rocha.
O dirigente queixa-se de que é o clube que suporta todas as outras despesas, inclusive com um campo de futebol que é municipal. Exige, por isso, ajuda para levar a cabo um projeto que tem mais de social do que de desportivo. "Os miúdos chegam aqui com as regras da rua, mas rapidamente percebem que têm de mudar o comportamento. E fazem-no porque só querem jogar à bola", explica.
Carlos Rocha lembra, ainda, que é nos treinos e jogos que os jovens da Pasteleira Nova convivem com uma realidade diferente, conhecem crianças de outras origens sociais e descobrem um mundo que o bairro faz questão de manter secreto.