Viciados trocam artigos roubados ou dinheiro por narcóticos. PSP diz que crimes são cometidos longe do bairro.
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Muita da cocaína e heroína compradas no Bairro da Pasteleira Nova, no Porto, é paga com material furtado. Naquele que é considerado o "supermercado" de droga do Norte do país há quem se dedique unicamente a recetar objetos de valor. O mesmo acontece com oficinas de automóveis existentes nas imediações do bairro. A PSP acredita, no entanto, que a maioria dos furtos e roubos acontece longe da Pasteleira Nova.
São indivíduos que circulam pelo bairro durante todo o dia e noite, em permanente contacto com toxicodependentes e com os mesmos trejeitos dos traficantes. Mas não vendem droga e a sua função é só uma: recetar material furtado.
Em troca de telemóveis, carteiras, óculos de sol, mas também peças de carros ou qualquer outro objeto que tenha algum valor associado, estas figuras pagam pequenas quantias aos toxicodependentes, que chegam à Pasteleira Nova com o material furtado do interior de viaturas, de malas perdidas ou de residências. O pouco dinheiro dado pelo material furtado não chega a entrar no bolso dos toxicodependentes, pois estes dirigem-se, de imediato, à banca mais próxima e adquirem a dose que o montante arrecadado der para levar.
Esquema semelhante é usado pelos proprietários de algumas oficinas existentes nas imediações do bairro. Também nestes estabelecimentos são comprados, sempre a um preço muito inferior ao praticado no mercado tradicional, peças de carros furtadas. Normalmente, são jantes ou catalisadores subtraídos de viaturas estacionadas na rua.
O JN apurou que há casos de mecânicos a encomendar o furto de peças específicas e recetadores que pedem os modelos de telemóveis mais recentes. Tudo se arranja.
Cinco detidos por roubo
Os moradores dos bairros nas imediações da Pasteleira Nova já denunciaram, por várias vezes, ondas de assaltos que varrem os carros estacionados nas ruas. Dizem igualmente temer roubos enquanto percorrem os jardins da zona.
Contudo, o chefe do Núcleo de Operações da PSP do Porto, subintendente José Ferreira, alega que não é na Pasteleira Nova ou nos bairros vizinhos que os materiais trocados por droga são furtados. "As nossas estatísticas criminais dizem que as denúncias por furtos e roubos são pouco expressivas face ao sentimento de insegurança que nos é transmitido pelos cidadãos. O pedido de reforço policial é bastante superior às denúncias criminais que recebemos", realça.
O oficial da PSP acrescenta que "o número de viaturas furtadas naquele local [da cidade do Porto] é diminuto" e revela que "é muito maior o número de viaturas furtadas que são recuperadas" no bairro da Pasteleira Nova. Trata-se de "viaturas que servem de transporte para as pessoas que vão ali abastecer-se de droga", explica.
Os números oficiais da PSP dão corpo a esta análise. Das 467 detenções feitas em 2022 no bairro, 24 estavam relacionadas com furto de carro e cinco foram justificadas com roubos. Cinco pessoas foram detidas por posse de arma proibida e 59 em fiscalizações de trânsito.
DESTRUIÇÃO
Centro de saúde e Junta de Freguesia assaltados
As instalações do centro de saúde e da Junta de Freguesia de Lordelo do Ouro, junto à Pasteleira Nova, foram assaltadas na madrugada de ontem. Nada foi roubado, mas houve vários danos que impediram o início normal das consultas médicas. A autarca de Lordelo do Ouro, Sofia Maia, confirmou que "tem havido bastantes assaltos" na zona, mas afirmou que só a Polícia poderia esclarecer as motivações dos criminosos, que deixaram um rasto de destruição nas instalações das duas entidades.
DISCÓRDIA
"Guerra de palavras"
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, continuam numa "guerra de palavras" sobre quem é responsável por atuar na Pasteleira Nova.
Polícia Municipal
Numa entrevista a um canal de televisão, anteontem, o autarca do Porto referiu que a Polícia Municipal "não pode intervir na proteção e segurança dos cidadãos" quanto ao tráfico de droga.
Contratos locais
Horas depois, José Luís Carneiro garantiu que as operações policiais na Pasteleira Nova são constantes e pediu que Câmara esteja disponível para relançar os contratos locais de segurança.