Pessegueiro quis dar dinheiro em mão a Miguel Reis para criar "ligação de afinidade"
O empresário Francisco Pessegueiro contou, esta sexta-feira, no Tribunal de Espinho, que o amigo Miguel Couto e Miguel Reis, que não conhecia na altura, lhe pouparam 15 a 20 mil euros, na compra de uma casa. Em contrapartida, ficou de lhes dar cinco mil euros.
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Segundo explicou na segunda sessão do julgamento da Operação Vórtex, Pessegueiro deu 2500 euros a Couto em outubro de 2021, logo após a escritura da casa, mas quis dar pessoalmente os outros 2500 euros a Miguel Reis, entretanto já eleito presidente de Câmara de Espinho.
“Desconfiava que ele não entregasse o dinheiro e queria entregar eu para criar uma ligação, uma afinidade”, afirmou. O empresário pediu a Miguel Couto para marcar um encontro e avisou que não lhe ia pedir nada de ilícito. “Só precisava que os meus projetos andassem”, sublinhou. Portanto, "Miguel Reis já ia prevenido", perguntou o juiz, obtendo um “sim” como resposta.
Em maio de 2022, reuniu então com Miguel Reis num café. Foi a primeira vez que se encontraram fora da Câmara. Estavam só os dois e deu-lhe a comissão da casa: 2500 euros em dinheiro numa pasta preta.
“Depois falei de um projeto que estava parado desde janeiro e que tinha de pagar uma cláusula punitiva de 500 mil euros se não tivesse isso pronto até ao final do ano". Miguel Reis terá respondido que "isso era uma coisa urgente: 'é como ir a uma lavandaria e pedir uma camisa lavada para mesmo dia' ”, contou.
“O Miguel chamou a isso uma taxa de urgência e pediu-me 50 mil euros para ter o projeto, pelo menos da 32 nascente, até ao final do ano cá foral”, acrescentou. O empresário imobiliário afirmou que estava com “a corda na garganta” e aceitou. “As contas eram fáceis de se fazer: entre perder meio milhão ou 50 mil preferi perder 50 mil e ainda ter alguém na câmara e não um inimigo”.
Em dezembro, o projeto foi aprovado mas Pessegueiro diz que nunca chegou a pagar os 50 mil. Porém, em setembro de 2022, entregou a Miguel Reis outros cinco mil em dinheiro no mesmo local. Segundo o empresário , tinham sido pedidos pelo próprio autarca, a 30 de agosto de 2022, por causa da inclinação de uma mansarda de um outro projeto.
À saída do tribunal, Miguel Reis recusou por completo a veracidade do depoimento de Pessegueiro, garantindo que é, "de forma inequívoca, completamente falso". As afirmações do empresário, para o antigo autarca, "são incoerentes", acusando-o de trocar de "opinião constantemente".
Operação Vórtex
Começaram a ser julgados quinta-feira no Tribunal de Espinho os ex-presidentes da Câmara Miguel Reis e Pinto Moreira e os empresários Francisco Pessegueiro, João Rodrigues e Paulo Malafaia. No âmbito da Operação Vórtex, foram ainda acusados mais três arguidos que, na altura dos factos, desempenhavam as funções de chefe de divisão na autarquia e cinco empresas.
Em causa estão crimes relacionados com "projetos imobiliários e respetivo licenciamento, respeitantes a edifícios multifamiliares e unidades hoteleiras, envolvendo interesses urbanísticos de dezenas de milhões de euros, tramitados em benefício de determinados operadores económicos”.
A acusação sustenta que os autarcas e funcionários municipais terão recebido elevadas quantias de dinheiro por parte dos empresários para garantir o favorecimento de empreendimentos imobiliários na cidade de Espinho.