Grupo privado com 11 mil membros promovia ideologia de ódio no Facebook. DIAP de Lisboa está a investigar autointitulados "racistas unidos pelo Chega"
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A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou a abertura de um inquérito-crime sobre a atividade de um grupo de influência fascista e racista com mais de 11 mil membros no Facebook. Após a notícia do JN, publicada esta semana, o Departamento de Investigação e Ação Penal de (DIAP) de Lisboa vai investigar a página autointitulada "Racistas unidos pelo Chega". O Código Penal (ver caixa) prevê penas de até oito anos de prisão pelos crimes de discriminação e incitamento ao ódio e à violência, em causa no inquérito.
Após ser questionado pelo JN, o Facebook removeu a página que dizia estar ligada ao partido Chega, por entender que esta promovia "ideologia de ódio". Fonte da direção daquele partido negou qualquer afinidade com o grupo e lamentou que este se tenha tentado colar ao Chega ou a André Ventura, repudiando os ideais ali promovidos e garantindo que "não tolerará quem o faça em nome do partido".
11 289 membros
Apesar de o partido rejeitar qualquer ligação com o grupo, os membros deste faziam gala de anunciar essa ligação ao chamarem-se: "Apoiantes do Chega e de André Ventura". E não tinham problemas em dizer ao que vinham: "Somos racistas unidos pelo Chega. A nossa maior causa é o racismo e destruir o sistema corrupto do 25 de Abril". O grupo propunha mesmo: "Vamos destruir o sistema abrileiro e criar a 4.ª República".
O JN apurou que um dos administradores do grupo é Bruno Silva, assumido defensor do regime nazi, que diz ser amigo de André Ventura. E, na descrição do grupo, lia-se que "este é um dos grupos oficiais do partido Chega". Também aqui há duas versões, pois Ventura e o partido desmentem tal amizade e ligação oficial.
Real ou imaginária, a verdade é que o grupo faz gala de uma suposta proximidade com o líder do Chega. "O André Ventura, quando está fora dos holofotes, diz explicitamente que temos de tomar o país, nem que seja por meio de uma revolução à força e mudar a Constituição", assegurava-se na descrição do grupo.
Não conhecia o grupo
Mais uma vez, o partido desmente e garante que "não tinha qualquer conhecimento da existência deste grupo. É impossível estar a par de todos os grupos que são criados nas redes sociais, até porque, não sendo criados por elementos da direção nacional ou por outros elementos dirigentes, não são da responsabilidade do partido", justifica.
De qualquer forma, o Facebook apressou-se a remover a página do grupo, dadas as evidências de propaganda de um discurso de ódio, que é punido pela Justiça. "Confirma-se a instauração de inquérito relacionado com a matéria mencionada, a correr termos no DIAP de Lisboa", informou ontem a PGR.