"Zambrius" tem 21 anos mas é suspeito de praticar ataques informáticos desde os 15. Estado-Maior das Forças Armadas e Universidade Nova de Lisboa também entre as vítimas do hacker.
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O pirata informático conhecido por "Zambrius", fundador do Grupo Cyberteam, foi condenado, na terça-feira, a seis anos de prisão efetiva por crimes de acesso ilegítimo, dano informático, sabotagem e acesso indevido. Entre as vítimas do hacker estavam o Benfica, a empresa de telecomunicações Altice, dona da Meo, ou ainda a Universidade Nova de Lisboa.
Na vida real, "Zambrius" chama-se Tomás e é natural da Ericeira, onde usava a Internet da mãe ou de vizinhos para perpetrar ataques. Desde os 15 anos que é suspeito de piratear instituições do Estado e figuras públicas, com o grupo Anonymous Portugal.
O grupo expôs dados pessoais de cerca de dois mil procuradores. Atacou também autarquias e o cantor Tony Carreira, mas foi travado pela Polícia Judiciária (PJ) em 2015 com a Operação Caretos, que resultou na condenação de "Zambrius" a um ano de prisão com pena suspensa, decidida em 2020. Nesse mesmo ano, através dos Cyberteam, especialistas em aproveitar as vulnerabilidades de sites, Tomás voltou à ribalta da pirataria.
Da APAF ao clube da Luz
De acordo com o Tribunal de Lisboa, "Zambrius" começou por atacar a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), em janeiro de 2020. Com ajuda de outros membros dos Cyberteam, conseguiu as credenciais de um colaborador da APAF e entrou no sistema informático para publicar uma fotografia do criador do Football Leaks, Rui Pinto, no site da instituição, em protesto contra a sua prisão preventiva. "Zambrius" publicitou o feito nas redes sociais.
Em março, atacou a SAD do Benfica. Conseguiu penetrar no sistema do clube da Luz e acabou por divulgar credenciais de acesso dos encarnados. Também entrou na aplicação "My Benfica". Divulgou novamente o feito através das rede sociais, com a mensagem: "jogue os corruptos fora de campo". Foram necessários 30 dias para repor os níveis de segurança.
Em abril do mesmo ano, o hacker atacou a Meo e exfiltrou dados pessoais, como nome, morada, número de contribuinte ou de telefone de 154 mil clientes. Eram registos de clientes angariados porta à porta. Mais uma vez, as redes sociais foram o palco para reivindicar o ataque. Seguiram-se alvos como a Universidade Nova de Lisboa ou o Estado-Maior das Forças Armadas, entre outros.
O Benfica, defendido pelos advogados Rui Patrício, Saragoça da Mata e João Medeiros, constituiu-se assistente no caso. No julgamento, o clube foi representado por David Silva Ramalho, que, contactado pelo JN, não quis fazer comentários sobre o acórdão.
Operação
Voltou a piratear apesar de estar em prisão domiciliária
"Zambrius" foi detido pela Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica em abril de 2020 e colocado em prisão domiciliária. Apesar da medida de coação, voltou a usar os seus dotes informáticos para piratear mais sites. Em novembro, mês em que foi colocado em prisão preventiva, atacou o Tribunal Superior Eleitoral do Brasil. Reivindicou as intrusões numa entrevista ao jornal "Folha de São Paulo" em que revelou ter usado apenas um telemóvel.
Pormenores
Libertado
O jovem foi colocado em prisão preventiva por ter sido acusado do crime de associação criminosa. O tribunal não deu como provado este crime e alterou as medidas de coação, ordenando a sua libertação.
Sem passaporte
O coletivo de juízes obrigou o arguido a entregar o passaporte e a apresentar-se duas vezes por semana às autoridades como medida de coação.
Cadeia para jovens
Após ter sido colocado em prisão preventiva, "Zambrius" foi levado para o Estabelecimento Prisional para Jovens de Leiria, onde esteve até terça-feira.