Rui Pinto, o gaiense detido na Hungria a pedido das autoridades portuguesas por suspeitas de tentativa de extorsão ao fundo Doyen Sports, conhecido como o primeiro caso do "Football Leaks", vai poder ser formalmente interrogado sobre o caso dos e-mails do Benfica, em que é suspeito de acesso indevido.
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Completa-se hoje um mês desde que Rui Pinto foi detido no âmbito do mandado de detenção europeu emitido apenas sobre o caso daquele fundo de investimento ligado ao futebol. O gaiense licenciado em História, que vive em Budapeste desde 2015, poderia ser extraditado para Portugal e interrogado apenas sobre este caso, excluindo outras suspeitas do Ministério Público e Polícia Judiciária.
Para já, Pinto está indiciado apenas por crimes de violação de segredo, extorsão qualificada na forma tentada, acesso ilegítimo e ofensa a pessoa coletiva, precisamente tendo como vítima a Doyen. Os advogados de Rui Pinto explicaram que o arguido não renuncia ao "princípio da especialidade", mediante o qual, em caso de ida para Portugal, as autoridades portuguesas ficam impedidas de proferir mais acusações do que as que existem atualmente.
Alargamento do mandado
Todavia, sabe o JN que entretanto as autoridades portuguesas já requereram o alargamento do âmbito do mandado de detenção europeu. Concretamente, esta formalidade vai permitir à PJ e ao MP interrogar Rui Pinto sobre as suspeitas de ter violado o sistema informático do Benfica e divulgado os e-mails, que têm atirado o clube das águias para investigações sem precedentes, por suspeitas de corrupção e tráfico de influências.
A PJ encontrou várias semelhanças entre o ataque à Doyen e aquele que sofreu o Benfica. Em ambos os casos, a intrusão terá sido aparentemente praticada através dos mesmos servidores, situados na Europa e nos Estados Unidos da América. Também os vetores dos ataques (técnica usada para penetrar nos sistemas do Benfica e da Doyen) são semelhantes.
Ainda de acordo com informações recolhidas pelo JN, Rui Pinto pode agora vir a ser confrontado com outras suspeitas de crimes informáticos. É o caso das tentativas de "exfiltração de dados" que visaram e-mails trocados entre governantes, incluindo ministros e secretários de Estado, que ocorreram entre 2016 e 2017. As suspeitas recaem sobre Pinto porque o método utilizado era semelhante ao do caso da Doyen e do Benfica.
Em entrevistas a órgãos de informação estrangeiros, Rui Pinto já veio negar ser o "hacker" que sacou os e-mails do Benfica, garantindo ser sim um denunciante de práticas ilegais do negócio do futebol. Reconheceu ser um dos "mentores" do "Football Leaks", que já levou as autoridades europeias a abrir investigações por crimes económico-financeiros. Neste contexto, repudia o rótulo de pirata informático.
Detido a 16 de janeiro e colocado em prisão domiciliária, com acesso à Internet, Rui Pinto aguarda agora uma decisão do Tribunal de Budapeste sobre o pedido de extradição para Portugal. Recentemente, um tribunal de segunda instância húngaro decidiu indeferir um recurso do Ministério Público local, que pretendia colocá-lo em prisão preventiva. Os juízes entendem não haver perigo de fuga.
Pormenores
Advogado elogia - Vincent Brengarth, um dos advogados de Rui Pinto, usou ontem a sua conta de Twitter para dizer que o gaiense se tornou símbolo do movimento de transparência no mundo do futebol, onde a corrupção se multiplica.
Claques apoiam - Gerou-se uma onda de apoio a Rui Pinto, com várias claques de futebol a exibirem tarjas com mensagens para que "se mantenha forte". Adeptos do Friburgo, do Düsseldorf e mais recentemente do Lucern, na Suíça, manifestaram apoio.
Mercado do Benfica - A PJ suspeita que o blogue que tem revelado os e-mails do Benfica é gerido por Rui Pinto. O blogue tem vindo a ser encerrado e reaberto em vários países, para poder continuar a divulgação.
Livro em português - Na sua página de Facebook Rui Pinto anunciou, na semana passada, o lançamento da edição portuguesa do livro "Football Leaks", que promete revelar os "negócios obscuros por detrás do jogo".
Colaboração - Os advogados de Rui Pinto já vieram a público garantir que o gaiense está a colaborar com as autoridades francesas e suíças em casos de crimes económico-financeiros.
E-Toupeira - O Sporting, que se constituiu assistente no processo "e-Toupeira", não recorreu da decisão do Tribunal Central de Instrução Criminal de não levar a julgamento a SAD do Benfica pelos 30 crimes pelos quais foi acusada.