Investigação da Polícia Judiciária tem indícios de que Rui Pinto geria blogue "Mercado de Benfica".
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O pirata informático Rui Pinto só assumiu a sua colaboração com o site Football Leaks, através do qual foram divulgados milhões de documentos sobre negócios do mundo do futebol, mas a investigação da Polícia Judiciária já terá elementos que associam aquele indivíduo de Vila Nova de Gaia ao blogue "Mercado de Benfica", onde foi divulgado abundante correio eletrónico de responsáveis benfiquistas e, mais recentemente, documentação sacada do sistema informático da sociedade de advogados PLMJ.
Detido quarta-feira na Hungria, por força de um mandado de detenção europeu, Rui Pinto é suspeito não só de ter uma participação direta da difusão de e-mails dos encarnados no "Mercado de Benfica", como de ter agido sozinho na gestão deste blogue. Da fundamentação do mandado de detenção europeu não constará informação que ligue o suspeito, em concreto, ao blogue que atormentou as hostes benfiquistas nos últimos anos. O que dali resulta evidente é que Rui Pinto, de 30 anos, é suspeito de crimes de acesso ilegítimo, violação de segredo, tentativa de extorsão e ofensa a pessoa coletiva.
Mas, segundo as informações recolhidas pelo JN, os investigadores já verificaram, por exemplo, uma coincidência de servidores e de métodos usados para concretizar os acessos ilegítimos tanto ao sistema informático do fundo Doyen, que permitiram alimentar o Fooball Leaks, como ao do Benfica, de onde foram sacados e-mails divulgados no blogue "Mercado de Benfica".
Para conferir a alegada ligação de Rui Pinto ao blogue anti-Benfica, o Ministério Público e a Judiciária contarão ainda com o material informático apreendido na residência de Rui Pinto em Budapeste esta quarta-feira. Em audiência realizada em tribunal da capital húngara, a defesa de Rui Pinto opôs-se à entrega do suspeito a Portugal, mas, entre os investigadores portugueses, dá-se como garantido o envio do material informático apreendido, independentemente daquela extradição.
Blogue reaberto duas vezes
O blogue "Mercado de Benfica" estava alojado na plataforma Wordpress, mas foi encerrado. Já este mês, seria reaberto na blogsky.com, sediada no Irão, e divulgou informação sacada à sociedade de advogados PLMJ, que tem o Benfica como cliente, mostrando conteúdos relacionados com processos judiciais como o dos Vistos Gold, da Operação Marquês e do BPN. O blogue também ali foi encerrado pouco depois. Mas, entretanto, voltou a abrir a partir de Anguilla, um território offshore situado nas Caraíbas. Anteontem, disponibilizava uma ligação para descarregar e-mails de Miguel Moreira, diretor financeiro do Benfica, mas os ficheiros tinham sido alojados num servidor de partilha de dados em 8 de janeiro, ou seja, antes da detenção de Rui Pinto.
MP e defesa recorrem da prisão domiciliária
Nem o Ministério Público (MP) da Hungria nem o advogado David Deak, que defende Rui Pinto naquele país, aceitam a prisão domiciliária com pulseira eletrónica aplicada por um tribunal de Budapeste, após a execução do mandado de detenção europeu. O MP recorreu para pedir prisão preventiva e Deak pediu liberdade para o português. Pinto é ainda defendido pelo advogado Francisco Teixeira da Mota, especialista no tema da liberdade de expressão, e pelo francês William Bourdon, que representou o ex-analista da NSA Edward Snowden. Os honorários serão pagos pela fundação The Signals Network, que ajuda denunciantes de crimes.
Football Leaks atinge Ronaldo
Lançado em 2015, o site Football Leaks revelou contratos e informações confidenciais sobre clubes, futebolistas (entre eles Angel Di María e Lucho González) e evasão fiscal. Foram 18,6 milhões de documentos nos quais Cristiano Ronaldo também foi visado em duas ocasiões. Primeiro por questões fiscais, ainda no Real Madrid, e mais recentemente com a revelação do processo em que a americana Kathryn Mayorga o acusa de violação, em Las Vegas.
Mandado europeu por 4 tipos de crimes
Rui Pinto foi detido na Hungria ao abrigo de um mandado de detenção europeu, sendo-lhe imputados crimes de extorsão qualificada na forma tentada, acesso ilegítimo, ofensa a pessoa coletiva e violação de segredo. Este último relativo à suposta apropriação e divulgação de dados sigilosos no âmbito do caso Doyen, entre outros.
Francisco Teixeira da Mota
Advogado de Rui Pinto
"Os denunciantes devem ser protegidos, para que não sejam punidos de forma efetiva. Não é que sejam uns "Robin Hood", mas são de alguma forma uns cavaleiros solitários, que nos informam sobre o que se passa nos bastidores de uma sociedade complexa e, ao contrário do que parece, cada vez mais opaca".